Marinha

CIAGA RECEBE VISITA DO PRESIDENTE DA ESCOLA NÁUTICA INFANTE D. HENRIQUE (ENIDH) DE PORTUGAL

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Contra-Almirante VIAMONTE recebe o Presidente e o Vice-Presidente da ENIDH de Portugal em visita ao CIAGA.

No dia 21 de março de 2019, o Centro de Instrução Almirante Graça Aranha (CIAGA) recebeu a visita do Presidente da Escola Náutica Infante D. Henrique (ENIDH) de Portugal, o Sr. LUIS FELIPE BATISTA, acompanhado pelo Vice-Presidente dessa Escola, Professor LUIS MENDONÇA. A ENIDH é a única escola pública nacional de formação marítima de Portugal, oferece graduação em Náutica, Máquinas, Engenharia Eletrotécnica Marítima, Gestão de Transporte e Logística, e Gestão Portuária, cursos de aperfeiçoamento em Náutica e Máquinas e cursos técnicos destinados a formar quadros intermediários capazes de realizar atividades de manutenção e reparos em navios.

Durante o encontro, o Comandante do CIAGA, Contra-Almirante AMINTAS DA SILVA VIAMONTE, apresentou as instalações do Centro de Instrução, como as Salas de Aulas, os Laboratórios, os Simuladores de Passadiço e de Praça de Máquinas, o Grêmio de Vela e os Camarotes dos alunos da Escola de Formação de Oficiais da Marinha Mercante (EFOMM).

Ainda nesta ocasião, foram iniciadas tratativas e aprofundamento de diálogo entre as autoridades, de modo a permitir uma análise das possibilidades de cooperação entre as Instituições futuramente.

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Contra-Almirante VIAMONTE apresenta o Grêmio de Vela do CIAGA

Um pouco mais sobre o Infante D. Henrique e a “Escola de Sagres”:

Em Sagres, o Infante D. Henrique sabia que não conseguiria conquistar a barreira física, se não vencesse primeiro a “barreira do medo”. (1)

Vamos agora relembrar a histórica importância do Infante D. Henrique, fundador da “Escola de Sagres”(2), aquele que criou as condições básicas para a realização das navegações portuguesas que desvendaram a Terra, abriram vias de comunicação marítima à escala planetária e puseram em contato civilizações distantes e distintas, contribuindo de forma determinante para o conhecimento do Mundo e a universalização da Humanidade. Essas navegações foram essencialmente o resultado de uma persistente atividade científica renascentista nos campos da astronomia, cartografia, oceanografia e meteorologia, arte de navegar e arquitetura naval, englobadas no termo “ciência náutica”, conduzindo os Portugueses ao domínio da navegação oceânica.

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Monumento aos descobrimentos, Lisboa Padrão dos Descobrimentos 2006 Luca Galuzzi

A capacidade de navegação em latitude no oceano sem limitações, associada à arte de idealizar e construir navios e comandá-los, conferiu aos Portugueses o pioneirismo do descobrimento do Mundo. A “ciência náutica” está pois na base dos descobrimentos Marítimos dos Portugueses e na sua subsequente Expansão.

O feito dos Portugueses foi produto de um propósito claro que exigiu forte apoio nacional e, por isso, tratou-se de um grande protótipo da exploração moderna” .(1)

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A Ciência Náutica e a Expansão Marítima Portuguesa A. J. Silva Soares Ed. Academia de Marinha 1997 – Lisboa

 

Os países com atividade marítimas até então, os mediterrânicos e os nórdicos, não faziam navegação no “mar largo”, mantinham-se nas rotas comerciais costeiras da Europa e no histórico “mare nostrum*”. Mesmo os vikings nas suas viagens a Norte, fizeram singraduras relativamente pequenas, entre as grandes ilhas dessas latitudes.

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A Ciência Náutica e a Expansão Marítima Portuguesa A. J. Silva Soares Ed. Academia de Marinha 1997 – Lisboa

Napoleão dizia que “a História é a única filosofia real”. De fato, a História bem compreendida, é um suporte para a conscientização da coletividade e para a construção do futuro. Neste sentido:

– Portugal foi um país criador, cuja cultura se expandiu e se tornou universalista, muito além dos interesses meramente econômicos subjacentes à expansão;

– a expansão marítima ultrapassou os limites do humanamente admissível e, principalmente;

– o catalisador de toda esta energia renovadora chama-se Infante D. Henrique que reunia uma capacidade excepcional para planejar, organizar, administrar que fariam inveja a muitos empresários modernos. Com estas características, o Infante tomou a iniciativa de contratar no exterior alguns notáveis cientistas para colaborarem no seu plano, não só mediante estudos específicos, mas também na transmissão de seus saberes, para a iniciação ou aperfeiçoamento dos portugueses. De fato a conhecida “Escola de Sagres” não se tratava de um espaço físico contido entre paredes e teto, mas um núcleo de cientistas a que se juntaram portugueses, reunidos na casa do Infante de Sagres com uma ideia central e um profícuo espírito de investigação que deu resultado a uma nova Ciência Náutica, a formação de Pilotos, e o apoio científico às Navegações.

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3- Imagens do Infante D. Henrique

Para as navegações propostas pelos Portugueses da Escola de Sagres, surgia a necessidade de ir além da navegação estimada. Os portugueses tiveram a coragem e a criatividade para se lançarem na utilização dos astros, para a navegação em alto mar, que implicou na concepção de novos métodos e meios de formação profissional. Trabalho progressivo e longo. Para executá-lo, Portugal precisava de um dirigente que unisse as pessoas, organizasse recursos e apontasse o caminho. O Infante Dom Henrique – o Navegador – era uma combinação curiosa de espírito heroico e ousado de imaginação solta com um temperamento sedentário. Frígido em relação aos indivíduos, apaixonavam-no as grandes ideias. A sua obstinação e a sua capacidade de organizar se revelavam essenciais para a primeira grande empresa de descoberta moderna. Em Sagres, ele se tornou o “Navegador” e aplicou o zelo e a energia do cruzado à exploração. A corte do Infante D. Henrique foi um laboratório de investigação e estudos, pois no mundo cruzado o conhecido era dogma e o desconhecido era incognoscível (impossível conhecer). Mas, no mundo do explorador, o desconhecido era simplesmente o ainda não descoberto. D. Henrique fez de Sagres um centro cartográfico, navegação e construção naval, pois ele sabia que o desconhecido só poderia ser descoberto se assinalassem as fronteiras do conhecido. Isso significava atirar ao lixo as caricaturas desenhadas por geógrafos cristãos e substituí-las por mapas fragmentados, o que exigia uma abordagem progressiva. Ele passou a exigir que os marinheiros fizessem diários de bordo e cartas precisas e anotassem tudo que vissem nas costas, para uso dos seus sucessores. Até então, os registros dos navegadores eram feitos ao acaso e agora o Infante ordenava que todos os pormenores fossem assinalados com precisão, para que a cartografia pudesse se tornar uma ciência cumulativa. Daí foram para Sagres marinheiros, viajantes e sábios de toda a parte, além de judeus, árabes, muçulmanos, italianos de Gênova, de Veneza, alemães e escandinavos.

 

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A Ciência Náutica e a Expansão Marítima Portuguesa A. J. Silva Soares Ed. Academia de Marinha 1997 – Lisboa

Esta nova fase das Navegações envolveu um grande desenvolvimento da “Ciência Náutica”: adaptação dos instrumentos de observação, primeiro o quadrante e mais tarde o astrolábio, a criação de regulamentação de métodos de cálculo, a compilação de dados astronômicos e a evolução da cartografia. Em Sagres, as experiências em construção naval deram origem a um novo tipo de embarcação, sem o qual as expedições de D. Henrique não teriam sido possíveis. A “caravela” foi um barco concebido para trazer os exploradores de regresso. Portanto, podemos afirmar que a ciência geográfica e as técnicas de navegação dos séculos XV e XVI são primordialmente o resultado do trabalho pioneiro e exaustivo dos portugueses que, conseguiram promover a evolução da arte de navegar para a técnica de navegar. Desse trabalho, os demais países que subsequentemente avançaram na expansão marítima se beneficiaram e dentre eles, o primeiro a foi a Espanha.

A grande aventura medieval da Europa – as Cruzadas – exigia o risco de vida ou mutilação, nas lutas contra os infiéis. A exploração moderna teve de ser uma aventura da mente antes de se tornar uma aventura de viagem marítima”. (2)

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A Ciência Náutica e a Expansão Marítima Portuguesa A. J. Silva Soares Ed. Academia de Marinha 1997 – Lisboa

 

* Mare Nostrum (“nosso mar”, em latim) era o nome dado pelos antigos romanos para o mar Mediterrâneo. Nos anos após a unificação da Itália, em 1861, o termo foi revivido por nacionalistas italianos, que acreditavam que o país era o sucessor do Império Romano, e devia procurar controlar os territórios que pertenceram a Roma por todo o Mediterrâneo. <https://pt.wikipedia.org/wiki/Mare_Nostrum>

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3- Imagens do Infante D. Henrique

Fontes:

1 <https://profigestaoblog.wordpress.com/tag/infante-d-henrique/> consultado em 02/04/19;

2- Este último trecho da matéria baseia-se fundamentalmente nas pesquisas históricas desenvolvidas por A. J. Silva Soares e, publicadas no livro: A Ciência Náutica e a Expansão Marítima Portuguesa. Dúvidas, Certezas e Deturpações Históricas – Academia de Marinha – Lisboa 1997;

3- Imagens do Infante D. Henrique <https://www.google.com/search?q=&hl=pt-BR&tbm=isch&tbs=rimg:Cb2U4gSM3XyfIjjmgSgauanxFPrAlPUkLiVollHMN3XkcB74mDAKNYLym1zlT0IWuXCtyTphpBj1mMypsl_1NkV1QfCoSCeaBKBq5qfEUEXaNgw0sUdBCKhIJ-sCU9SQuJWgRbssJjsxdiWcqEgmWUcw3deRwHhHCPZdOZ9nnGyoSCfiYMAo1gvKbEdqNuoc6Zif1KhIJXOVPQha5cK0R6YQxWCuK4TwqEgnJOmGkGPWYzBEakAgGQN1j_1CoSCamyX82RXVB8EeMvSW026qv6&tbo=u&sa=X&ved=2ahUKEwjRu7uBjLThAhUjLLkGHZQ-BH8Q9C96BAgBEBs&biw=1185&bih=565&dpr=1.09#imgrc=vZTiBIzdfJ-u0M:> consultado em 02/04/19