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Canoa de Tolda Luzitânia será restaurada em estaleiro da Ufal

A histórica canoa de tolda Luzitânia, último exemplar preservado desse tipo de embarcação típica do Baixo São Francisco, chegou a Penedo nesta sexta-feira para iniciar um processo de restauração inédito. O trabalho será conduzido pela Universidade Federal de Alagoas (Ufal), no estaleiro-modelo especialmente preparado para abrigar o projeto. Símbolo cultural da região e homenageada no troféu do Circuito Penedo de Cinema, a Luzitânia marca um novo capítulo na preservação do patrimônio naval brasileiro.

Restauro, estaleiro modelo e preservação estrutural

O restauro da Luzitânia será realizado no estaleiro-modelo reformado pela Ufal, unidade Penedo, especificamente estruturado para receber a embarcação tombada pelo Iphan. O espaço permitirá a execução de técnicas tradicionais de conservação naval, como substituição controlada de peças de madeira, estabilização estrutural, manutenção do convés curvo, recuperação da velaria e preservação das linhas originais da canoa de tolda.

Os especialistas da Ufal farão a catalogação detalhada de cada componente da embarcação, garantindo a integridade das características que justificaram seu tombamento como patrimônio nacional. A equipe também seguirá protocolos rígidos de conservação preventiva, tratando o casco e os elementos internos contra fungos, umidade e deterioração natural típica de embarcações centenárias.

ONG Canoa de Tolda, responsável pela guarda histórica da embarcação durante décadas, atuará como consultora técnica, oferecendo conhecimento acumulado sobre a construção naval tradicional do Baixo São Francisco — saber que, hoje, é raro e fundamental para garantir a autenticidade do restauro.

Cultura, identidade e atores envolvidos

A chegada da Luzitânia a Penedo mobilizou instituições locais, estaduais e federais. A iniciativa une UfalIphan, Prefeitura de Penedo, ONG Canoa de Tolda, comunidade ribeirinha e pesquisadores, consolidando um esforço coletivo de preservação do patrimônio cultural imaterial do Baixo São Francisco.

A canoa guarda profundas memórias sociais: foi meio de transporte essencial para comunidades ribeirinhas, atravessando décadas como símbolo de economia, cultura e tradição. Em sua história, transportou arroz, gado, cabras, produtos agrícolas e passageiros — marcando a vida de beiradeiros, pescadores e comerciantes que dependiam totalmente do rio.

O restauro acontece no mesmo período da 15ª edição do Circuito Penedo de Cinema, evento que, desde 2011, utiliza o troféu inspirado na canoa de tolda como homenagem ao patrimônio regional. Este ano, o prêmio foi reestilizado pelo artista Fred Corrêa, fortalecendo o vínculo entre cinema, história e identidade ribeirinha. Para os organizadores do festival, a coincidência entre o evento e a chegada da canoa é “um reencontro entre memória e tradição”.

História, simbolismo regional e visão de futuro

canoa de tolda representa a alma do Baixo São Francisco. Única sobrevivente de sua categoria, ela simboliza um período em que o rio era a principal estrada para o Sertão, conectando cidades, pessoas e economias. Sua restauração, portanto, vai além da preservação de um bem material: é a manutenção viva de um capítulo essencial da história nordestina.

O coordenador do projeto, professor Igor da Mata, destaca que a Luzitânia poderá inaugurar as bases para um futuro Museu do Rio, que pretende reunir embarcações tradicionais, técnicas de construção naval e registros históricos sobre a vida cultural nas margens do São Francisco. A iniciativa busca transformar Penedo em referência de turismo cultural e preservação histórica no país.

Com a recuperação da canoa, Penedo e toda a região ganham uma nova possibilidade de integração entre turismo, educação, cultura e preservação ambiental. A Luzitânia restaurada será mais do que um atrativo — será um elo vivo entre passado, presente e futuro.