Por Primeiro-Tenente (T) Fellipe ROMÃO Sousa Correia
Na atmosfera, as condições do tempo são, de maneira geral, influenciadas pelos sistemas de pressão que estão atuando naquela área e naquele momento. Estes sistema se dividem primariamente entre centros de alta e baixa pressão. A circulação de ventos associada a esses sistema, no hemisfério sul, é anti-horária nos centros de alta e horária nos centros de baixa pressão, atribuindo-se então a eles os nomes de anticiclone e ciclone, respectivamente. Os anticiclones geralmente estão associados a tempo estável, sem condições de chuva, ao passo que ciclones ocasionam mau tempo, com formação de nuvens e pancadas de chuva.
Os centros de pressão podem ser ainda divididos em função do seu local de formação e da temperatura que eles apresentam em seu núcleo. No caso dos ciclones, tem-se a seguinte subdivisão:
- Ciclones extratropicais – se formam em latitudes altas, médias ou subtropicais e possuem núcleo frio em toda sua extensão vertical;
- Ciclones tropicais – se formam próximo ao equador e possuem núcleo quente em toda sua extensão vertical; e
- Ciclones subtropicais – se formam em latitudes subtropicais, possuindo núcleo quente mais próximo a superfície e núcleo frio mais alto na atmosfera.
De acordo com o compromisso nacional e internacional, por força de lei, A Marinha do Brasil (MB), por meio do Centro de Hidrografia da Marinha (CHM), opera o Serviço Meteorológico Marinho (SMM) que se ocupa do monitoramento e da previsão meteoceanográfica para a área de responsabilidade marítima conhecida como METAREA V. Quando são identificadas condições favoráveis a formação ou avanço de um ciclone subtropical ou tropical dentro da METAREA V, emite-se um aviso de mau tempo especial, informando a classificação, posicionamento, intensidade do vento, altura das ondas e previsão de deslocamento do sistema nas próximas horas. Esses avisos especiais são transmitidos via radiofrequência, satélite e divulgados nos canais oficiais da MB. Além disso, os avisos são emitidos com a máxima antecedência possível, visando alertar a população e a comunidade marítima sobre os efeitos adversos do fenômeno meteorológico. Também são divulgadas notas à imprensa em conjunto com outros órgãos de meteorologia, como o Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), o Centro Integrado de Meteorologia Aeronáutica (CIMAER) e o Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC), onde busca-se dar maior detalhamento ao fenômeno e informar os possíveis impactos nas áreas costeiras.
Conforme consta na publicação naval “Normas de Autoridade Marítima para as Atividades de Meteorologia Marítima” (NORMAM-19), que pode ser acessada através do seguinte endereço eletrônico: https://www.marinha.mil.br/dhn/?q=es/node/264, pode-se destacar que os ciclones subtropicais:
- São centros de baixa pressão atmosférica não associados a sistemas frontais;
- Apresentam características tanto de ciclones tropicais como de extratropicais;
- Apresentam geralmente ventos máximos relativamente afastados a distâncias maiores que 60 milhas náuticas do centro do sistema;
- Possuem campo de ventos e distribuição de convecção menos simétricos que os ciclones tropicais.
Além disso, a classificação é dada de acordo com a velocidade do vento observada ou estimada por satélite, conforme os seguintes limiares:
- Depressão Subtropical – inferior a 34 nós (63 km/h) ou Força 7 na Escala Beaufort; e
- Tempestade Subtropical – igual ou superior 34 nós (63 km/h) ou Força 8 na Escala Beaufort.
Ao atingirem a categoria de Tempestade, os ciclones subtropicais recebem um nome conforme lista prévia da NORMAM-19. Atualmente, apenas o nome “Yakecan” (som do céu, da língua tupi-gurani) não foi utilizado. A publicação encontra-se em revisão e deve ser atualizada ainda este ano, com a nova lista de nomes de ciclones.
Na Tabela 1, consta o histórico de classificação dos ciclones subtropicais/tropicais na METAREA V, desde 2011 até o presente. Nota-se que o mês de maior frequência é o mês de dezembro, seguido do mês de março, ambos dentro do período que compreende o máximo da estação chuvosa do verão em latitudes subtropicais.
Tabela 1 – Ciclones subtropicais/tropicais na METAREA V entre 2011 e 2021 catalogados pelo Serviço Meteorológico Marinho (SMM) brasileiro.
Nome | Classificação | Início |
Arani | Tempestade Subtropical | 14 – 16 de MAR de 2011 |
Bapo | Tempestade Subtropical | 5 – 8 de FEV de 2015 |
Cari | Tempestade Subtropical | 10 – 13 de MAR de 2015 |
Deni | Tempestade Subtropical | 15 – 16 de NOV de 2016 |
Eçaí | Tempestade Subtropical | 4 – 6 de DEZ de 2016 |
Guará | Tempestade Subtropical | 9 – 11 de DEZ de 2017 |
Iba | Tempestade Tropical | 23 – 28 de MAR de 2019 |
Jaguar | Tempestade Subtropical | 19 – 22 de MAI de 2019 |
Kurumí | Tempestade Subtropical | 23 – 25 de JAN de 2020 |
Mani | Tempestade Subtropical | 25 – 27 de OUT de 2020 |
Oquira | Tempestade Subtropical | 27 – 30 de DEZ de 2020 |
– | Depressão Subtropical | 14 – 16 de FEV de 2021 |
Potira | Tempestade Subtropical | 19 – 24 ABR de 2021 |
Raoni | Tempestade Subtropical | 28 de JUN – 1 JUL de 2021 |
Ubá | Tempestade Subtropical | 09 – 12DEZ de 2021 |
Os ciclones subtropicais tendem a deslocarem-se para sul/sudeste após sua formação, como foi o caso da Tempestade Subtropical Ubá, ciclone mais recente classificado pelo SMM, que pode ser visto na Figura 1.
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