Mentalidade marítima Notícias

Barco Escola de 6 Metros será reeditado em versão atualizada

Rumar – Instituto Rumo ao Mar  busca recursos para revitalizar o projeto do BARCO ESCOLA (modelo Sea Scout), visando fomentar e dinamizar a renovação da vela no Brasil assim como o fortalecimento da “Mentalidade Marítima”

Proposta levada à Petrobras Distribuidora que, patrocinou o 5º e 6º barcos da série.
Crédito Redação

O BARCO ESCOLA DE 6 METROS (20 PÉS), projetado em 1989 pelo Engenheiro Naval Maurillo Vinhas de Queiroz,  foi idealizado e construído através do Projeto Rumo ao Mar que, tinha como proposta, dotar cada grupo de Escoteiros do Mar no Brasil, com pelo menos uma embarcação adequada a iniciação e prática marinheira. Na ocasião existiam cerca de 100 grupos de Escoteiros do Mar, com uma média de 100 Escoteiros por Grupo. O projeto foi financiado pela SECIRM – Secretaria da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar, pelo EMFA – Estado Maior das Forcas Armadas, pela MB – Marinha do Brasil e a LUBRAX.

Folheto Projeto Rumo ao Mar – 1991. Crédito CCME – Centro Cultural do Movimento Escoteiro.

Em 1992 o Projeto foi interrompido e a fábrica encarregada pela produção dos barcos, precisou fechar. Durante este curto intervalo de tempo, seis barcos foram construídos.

Três décadas depois, os seis barcos da Classe Sea Scout ainda navegam: três deles na cidade do Rio de Janeiro, sendo um situado na Marina da Glória, o Flor de Lis, o qual pertence ao Grupo 116; dois no Iate Clube de Ramos; um quarto, em Angra dos Reis (RJ), outro em Brasília (o Pato do Cerrado) e o último, no Pará (o Comte. Sodré) que, usa como base de apoio o CIABA – Centro de Instrução Almirante Braz de Aguiar.

Barco Flor de Lis do Grupo de Escoteiros 116, voltando de uma velejada. Crédito Grupo 116.

A proposta agora, é reeditar os barcos, incorporando os avanços tecnológicos conquistados ao longo deste período, com aprimoramentos desenvolvidos após exaustivos testes, mantendo todas as características e qualidades marinheiras do projeto original. Será construído um pré protótipo, introduzindo inovações como o leme retrátil inovador para facilitar o encalhe na praia, popa vazada para aumentar o escoamento de água do cockpit e, redução da flutuação lateral para agilizar o adriçamento do barco após uma virada. Foram também previstos locais para guarda de roupas, salva-vidas, remos, âncora, etc.

O pré protótipo, deverá ser construído a partir de um casco já existente, no qual serão feitas as adequações. Tudo funcionando após mais alguns testes no mar, será feita uma nova forma para o convés. Vale lembrar que o plano de linhas do Engenheiro Naval Maurillo (“obras vivas”) será rigorosamente preservado. As alterações serão feitas todas acima da linha d’água (“obras mortas” ou seja: no que diz respeito ao conforto, ergonomia e segurança), não alterando o seu original desempenho marinheiro.

Projeto original assinado pelo Engº Naval Maurillo Vinhas de Queiroz. Crédito Redação

O professor de iniciação a Vela do Iate Clube do Rio de Janeiro, Diego Ferrer, formado em Ed. Física,  que dá aula para crianças em diversos barcos, conta a importância que a produção em larga escala destes Barcos Escola terá para o desenvolvimento da Vela no país. “Você tem a oportunidade de trazer para a Iniciação Náutica e Iniciação a Vela pessoas de todas as idades, com objetivos de recreação, formação e desempenho. A segurança pela proximidade com o aluno e a aceitação dos seus sentimentos em um barco coletivo, permite dosar para cada aluno, os estímulos pedagógicos específicos para as suas superações. Aquele mais aguçado, mais seguro, pode escolher um momento de vento mais forte e outro com mais medo ou em uma condição mais iniciante, terá melhores condições de aprendizado em uma situação mais tranquila. A Vela, além da habilidade de conduzir o barco, está intimamente ligada às ‘tomadas de decisões’, é um jogo de escolhas. O ‘como’ fazer (a técnica) estará sempre atrelada ao ‘porque’ fazer. E as respostas sobre o ‘porque fazer’, envolvem uma gama de conhecimentos interdisciplinares conectados a diversas áreas, condições e inter-relações com os barcos, o mar, condições do tempo e as pessoas que, uma embarcação coletiva pode estimular. Portanto, a embarcação coletiva é uma rica ferramenta que possibilita trazer inúmeras possibilidades, temas e reflexões a bordo”, comenta Diego.


Ampliando o acesso a mais crianças ou novatos em um barco coletivo, a tendência é que aumente o número de praticantes, seja para competição, apenas passeio, ou de amantes do mar e da vela.

FUNDAMENTOS DA INICIAÇÃO NÁUTICA COLETIVA

O barco individual ou solitário para iniciação náutica, não proporciona aos alunos a prática dos conceitos básicos de marinharia, embasados nos princípios da solidariedade, sua “Regra Áurea”. Este entendimento é básico, porque na água nos sentimos mais frágeis, por não estarmos em nosso habitat natural terrestre. Vale frisar que o sentido de coletividade, de equipe, fortalece e gera uma dinâmica de aprendizado mais saudável, eficaz, alegre e natural, partindo do princípio que a vida é alicerçada nas interdependências.

Neste sentido, observa-se que o barco individual não colabora para fortalecer a percepção de que somos seres interdependentes e gregários ou seja, que dependemos uns dos outros, não leva os alunos a vivenciar o ditado de que “a união faz a força”, que juntos somos mais fortes, em suma: não prepara para a vida em coletividade, além de criar um déficit de tripulantes, já que todos aprendem primordialmente a “ficar no leme”. Com esse barco, a equipe RUMAR pretende colocar em prática, o conceito intrínseco e indissolúvel da prática Marinheira, a sua “Regra Áurea” e, pilar da “Mentalidade Marítima”.

“A ideia do Barco Escola não é apenas para a Vela nacional, mas para toda a indústria náutica brasileira. A partir do momento que se coloca uma pessoa no mar através deste enfoque na iniciação, além de ter formação marinheira, caráter, ele vai cultivar o zelo pelo ambiente, não vai querer poluir o mar. Esta postura, vai interessar adicionalmente a quem constrói lanchas e outros veículos aquáticos …O nosso mote é fortalecer a ‘Mentalidade Marítima”, adiciona Günther Müller, pioneiro na fabricação de barcos em fibra de vidro no Brasil e, um dos responsáveis pela reedição do projeto atualizado deste Barco Escola.

“É questão de pertencimento, a criança ou a pessoa sente que aquele ambiente pertence a ela, que usufrui daquilo. Ela vai querer saber porque a água está poluída, porque as questões ambientais são tão desprezadas, pois tira o direito dela de usufruir plenamente da Baía de Guanabara ou do local onde ela pratica a náutica. Quando a pessoa pertence aquele ambiente,  passa a ser uma defensora de todo o ambiente”, acrescenta Diego.

CUSTOS E PRAZOS

A construção do novo modelo do Barco Escola, incorporando os conceitos acima, depende de apoio financeiro. A equipe do RUMAR juntamente com entusiastas destes valores universais, buscam captar pelo menos R$ 120 mil em recursos para começar a produzir um pré protótipo. Günther prevê que em ótimas condições, o pré protótipo irá ao mar para os primeiros testes após 60 dias, e nos seis meses subsequentes, o modelo ficará pronto.

Além do preparo do pré protótipo, pretende-se com estes recursos, registrar cada etapa do processo de adaptação do barco atual, da construção da forma e do primeiro barco, para eventualmente transformar este conteúdo num documentário e cursos de fabricação e manutenção de barcos em fibra de vidro, possibilitando disseminar este saber, por todos os centros náuticos do Brasil. 

1º Barco da Série, pronto para entrega: São João de Meriti, RJ – 1989. Crédito Redação