
No coração do Centro Industrial Nuclear de Aramar, em Iperó (SP), uma estrutura metálica gigantesca começa a ganhar forma. É o bloco 40, seção que abrigará o protótipo do reator nuclear do futuro submarino da Marinha do Brasil. O avanço marca um passo decisivo no Programa Nuclear Brasileiro, que busca dotar o país de sua primeira embarcação com propulsão nuclear — um marco inédito na história militar nacional.
Estrutura e funcionamento do reator nuclear naval
O bloco 40 é o núcleo do projeto: nele será instalado o reator nuclear do tipo PWR (Pressurized Water Reactor), o mesmo modelo utilizado em centrais nucleares como Angra 1 e Angra 2. Essa tecnologia gera energia térmica por meio da fissão de átomos de urânio enriquecido, aquecendo água pressurizada que, ao transferir calor para um circuito secundário, produz vapor para acionar a turbina e gerar propulsão.
Para validar o funcionamento do sistema antes de sua instalação no submarino, a Marinha constrói no Laboratório de Geração de Energia Nucleoelétrica (Labgene) um protótipo em escala real das seções mediana e traseira da embarcação. Inicialmente, a planta será testada com vapor de uma caldeira tradicional; apenas depois será carregada com combustível nuclear produzido em Aramar, onde o Brasil domina todo o ciclo de enriquecimento do urânio.
Importância do submarino nuclear para a defesa e soberania
O Submarino Nuclear Convencionalmente Armado (SNCA) Álvaro Alberto será o primeiro da América Latina e colocará o Brasil no grupo restrito de nações que dominam a tecnologia — atualmente limitado a EUA, Rússia, China, Reino Unido, França e Índia. Diferente dos modelos convencionais, um submarino nuclear pode permanecer meses submerso, sem necessidade de reabastecimento, oferecendo maior alcance, velocidade e furtividade.
Essas características tornam a embarcação um ativo estratégico para a defesa da Amazônia Azul, área marítima brasileira com mais de 4,5 milhões de km² e rica em recursos naturais. Com capacidade para vigilância prolongada, dissuasão e projeção de poder, o submarino nuclear reforça a presença do país em águas jurisdicionais e áreas de interesse estratégico.
Evolução do Programa Nuclear Brasileiro e desafios
O Programa Nuclear da Marinha (PNM) começou em 1979, de forma sigilosa, com o objetivo de dominar o ciclo do combustível nuclear e projetar um reator naval próprio. Ao longo de mais de quatro décadas, enfrentou restrições orçamentárias, embargos tecnológicos e a necessidade de desenvolver soluções 100% nacionais, já que a tecnologia de submarinos nucleares não é compartilhada por países que a dominam.
Paralelamente, o projeto integra o Programa de Desenvolvimento de Submarinos (Prosub), parceria Brasil–França que já resultou na construção de quatro submarinos convencionais. Com previsão de finalização do Álvaro Alberto para a próxima década, a conquista representará o coroamento de um esforço técnico, científico e industrial iniciado há quase meio século, garantindo ao Brasil uma posição estratégica inédita no cenário geopolítico mundial.
Com informações da Revista Pesquisa FAPESP.
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