Fellipe Romão Sousa Correia
O sistema de baixa pressão atmosférica que vem atuando sobre o oceano Atlântico Sul desde domingo (18) ganhou intensidade, atingindo a categoria de Depressão Subtropical durante a segunda-feira (19). Na madrugada de terça-feira (20), estimativas de sensores satelitais indicaram a ocorrência de ventos de 35 nós (65 km/h) no setor sul do sistema (Figura1).
Quando sistemas subtropicais ultrapassam o limiar de 33 nós (61 km/h), migram para a categoria de Tempestade Subtropical, sendo atribuído um nome ao sistema. O ciclone recebeu o nome de Potira (do tupi: flor), sendo o 12º a ser classificado pelo Serviço Meteorológico Marinho (SMM) brasileiro, conforme pode ser visto na Tabela a seguir:
Nome | Classificação | Período |
Catarina | Furacão (Cat. 2) | 24 – 28 de MAR de 2004 |
Anita | Tempestade Tropical | 8 – 12 de MAR de 2010 |
Arani | Tempestade Subtropical | 14 – 16 de MAR de 2011 |
Bapo | Tempestade Subtropical | 5 – 8 de FEV de 2015 |
Cari | Tempestade Subtropical | 10 – 13 de MAR de 2015 |
Deni | Tempestade Subtropical | 15 – 16 de NOV de 2016 |
Eçaí | Tempestade Subtropical | 4 – 6 de DEZ de 2016 |
Guará | Tempestade Subtropical | 9 – 11 de DEZ de 2017 |
Iba | Tempestade Tropical | 23 – 28 de MAR de 2019 |
Jaguar | Tempestade Subtropical | 19 – 22 de MAI de 2019 |
Kurumí | Tempestade Subtropical | 23 – 25 de JAN de 2020 |
Mani | Tempestade Subtropical | 25 – 27 de OUT de 2020 |
Oquira | Tempestade Subtropical | 27 – 30 de DEZ de 2020 |
– | Depressão Subtropical | 14 – 16 de FEV de 2021 |
Potira | Tempestade Subtropical | Em vigor |
Conforme consta na Carta Sinótica (Figura 2) de 12:00Z (09:00 horário local), Potira encontra-se na posição aproximada de 26ºS e 041,5º W, com pressão central de 1006 hPa, ventos de 35 nós (65 km/h) e rajadas de 47 nós (87 km/h). Encontra-se em vigor o Aviso Especial nº 324/2021 que descreve as características principais associadas a Tempestade Subtropical Potira, bem como a intenção de movimento do sistema para até a manhã de sexta-feira (23). O sistema está localizado na área marítima conhecida como BRAVO, uma subdivisão da METAREA V, que corresponde a área marítima de responsabilidade do Brasil para fins de divulgação de informações e previsões meteoceanográficas (linha tracejada na Figura 2).
Por conta da presença da Tempestade Subtropical Potira, não somente a área BRAVO, mas também as áreas ALFA, CHARLIE, DELTA e SUL OCEÂNICA poderão sentir os efeitos da atuação do sistema, seja com ventos mais intensos, mar agitado ou pancadas de chuva moderada a forte. São esperados, em alto-mar, ventos de até 47 nós (87 km/h). As ondas poderão variar entre 3,0 até 7,0 metros de altura significativa. Além disso, devido a propagação dessas ondas elevadas em direção a costa sul e sudeste brasileira, há condições favoráveis a ocorrência de ressaca entre o Arroio Chuí, no Rio Grande do Sul, e o Cabo de São Tomé, no Rio de Janeiro, com ondas entre 2,5 até 3,5 metros atingindo as praias. O SMM mantém todos os avisos de mau tempo em vigor disponíveis para consulta ao público em: https://www.marinha.mil.br/chm/dados-do-smm-avisos-de-mau-tempo/avisos-de-mau-tempo. A influência dos avisos de mau tempo no litoral brasileiro são detalhados nas notas à imprensa disponíveis no site da Diretoria de Hidrografia e Navegação (DHN): https://www.marinha.mil.br/dhn/?q=pt-br/notas-a-imprensa.
É importante ressaltar que os ciclones subtropicais diferem quanto a sua estrutura térmica vertical dos ciclones extratropicais e tropicais. Enquanto os tropicais apresentam núcleo quente em toda a troposfera (camada atmosférica próxima superfície terrestre), os extratropicais possuem a coluna atmosférica fria. Os subtropicais, por sua vez, mesclam características de ambos, apresentando um núcleo quente raso, em baixos níveis, seguido de um núcleo mais frio, em médios e altos níveis da troposfera. As simulações numéricas de escala global mostram que a Tempestade Subtropical Potira deverá permanecer pelo menos até quinta-feira (22) como um sistema subtropical, dia nos quais os modelos passam a divergir quanto a natureza do fenômeno. A Figura 3 ilustra uma das ferramentas utilizadas pelos meteorologistas para classificações de sistemas de baixa pressão, conhecida como Diagrama de Fases. O produto apresentado corresponde à simulação do modelo numérico GFS de acordo indicando a natureza subtropical do sistema.
A Tempestade Subtropical Potira vem apresentando convecção intensa, com nuvens de tempestade atuantes sobre o setor sul, o que já é próprio de ciclones desta natureza. A imagem de satélite (Figura 4) mostra nuvens de maior desenvolvimento vertical (topos frios) principalmente no setor sudeste do ciclone.
Um outro fator que contribui positivamente para a formação das nuvens de tempestade é a anomalia positiva de temperatura da superfície do mar (TSM) que vem sendo observada no Atlântico Sul. O mapa da Figura 4 mostra que na região de atuação do ciclone, próximo ao litoral sudeste, os valores chegam até 1,5ºC acima da média esperada para a época do ano.
A previsão para os próximos dias é de que o sistema se intensifique e desloque-se para leste e em seguida para sul/sudoeste até a quinta-feira (22). A partir deste dia, os modelos numéricos regionais do SMM apontam para uma possível transição da classificação de tempestade subtropical para Tempestade Tropical, o que deverá ser confirmado nos próximos dias. No entanto, o ciclone permanecerá atuando na área marítima até o final de semana, quando um sistema frontal vindo da Argentina deverá adentrar a METAREA V e absorver a circulação do ciclone, este fazendo uma nova transição e passando a ter características extratropicais. Caso ocorra a transição, será o primeiro registro oficial de um sistema com essas características nas águas do Atlântico Sul.
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