Nessa última semana a variação do nível do mar, bem como a intensidade das ondas que atingiram o litoral brasileiro causaram um sentimento de insegurança na população brasileira. Sabe-se que grande parte da economia brasileira (proveniente de recursos naturais, portos, pesca, etc…) se concentra nas regiões litorâneas e um impacto ambiental poderia causar uma série de danos, inclusive econômicos ao país. Boatos e mais boatos circularam nos principais veículos de comunicação, inclusive sobre a possível ocorrência de um Tsunami – mas afinal de contas, o que de fato aconteceu nesses últimos dias?
Tudo começou com a formação de um sistema de baixa pressão no sul do Uruguai, um ciclone. Em uma linguagem simples, um ciclone é um grande giro na atmosfera que faz com os ventos girem em sentido horário – e, acreditem, esses ciclones se formam e se deslocam o tempo todo sobre a costa brasileira. O fato não é apenas que este ciclone foi mais intenso do que o normal, mas sim, o sistema de alta pressão pós-frontal associado a ele. Primeiramente, a frente fria a ele associada ao ciclone, foi se deslocando para leste/nordeste, atingindo o litoral brasileiro desde o Rio Grande do Sul até o Espírito Santo. A passagem da frente fria causou o aumento da intensidade do vento e uma grande agitação marítima, com ondas de até 5 metros e período de até 15 segundos atingindo as praias brasileiras. Essas ondas que atingem grandes alturas e tem um período longo são conhecidas como swell, e são as ‘queridinhas’ dos surfistas, justamente por serem grandes e se propagarem de forma mais organizada.
Após a passagem dessa frente fria, houve a predominância do sistema de alta pressão pós–frontal mencionado anteriormente, um anticiclone, em que os ventos giram no sentido anti-horário). Esse anticiclone apresentava uma pressão bastante alta em seu centro que estava sobre o oceano e criou uma verdadeira pista para os ventos de nordeste na sua borda, que sopravam paralelamente a costa do sul do país. Esse vento do quadrante norte, ocasionou um transporte de água para sudeste (a 90° da direção do vento), resultando no recuo do mar – esse fenômeno é conhecido na oceanografia como Transporte de Ekman.
Conforme esse anticiclone foi perdendo a intensidade, o que ocorre após passagem de outras frentes frias, o vento de sudeste voltou a persistir e a empilhar as ondas na costa, e o mar voltou ao nível comumente observado nas praias brasileiras. Este fenômeno é comum, ocorre com frequência, porém nem sempre conseguimos observá-lo, pois o recuo do mar em alguns casos é imperceptível. Desta vez, como os ventos estavam intensos e persistentes, o fenômeno pôde ser observado em diversas praias das regiões Sul e Sudeste do Brasil.
Se você tiver interesse em acompanhar a formação e desenvolvimento desses sistemas atmosféricos sobre a área de responsabilidade marítima do Brasil, acesse a página do Serviço Meteorológico Marinho (https://www.mar.mil.br/dhn/chm/meteo/) e fique por dentro das nossas previsões.
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