ESPORTE Surf

Dias das Mulheres – Conheça Gessia Falkenberg das Astúrias


Por Gabriel Pierin

O médico cirurgião Hugo Einar Georg Egon Falkenberg gostava de ficar na rede na varanda da casa de praia, nas Astúrias, contemplando a luz da lua que refletia sobre o mar, num tempo em que a iluminação artificial ainda piscava distante nas praias do Guarujá.
Foi nesse cenário paradisíaco que a paulistana, Gessia, filha de Hugo, passou sua infância e adolescência. Gessia Figueira de Mello Falkenberg nascida em 3 de junho de 1953, está perto de completar 70 anos, mas não perdeu sua energia nem a herança cultural deixada pelos pais.
Os pais Hugo e Lucia Piza, historiadora e fundadora do Instituto Histórico e Geográfico do Guarujá e Bertioga, compraram a casa na Praia das Astúrias em 1958. Era uma casa de frente ao mar, pé na areia, quando ainda não havia a avenida da orla e o Edifício Sobre as Ondas era um lobo solitário em meio aos casarões. O contato de Gessia com o mar começou muito cedo. Seu pai era dinamarquês, e como todo bom descendente de viking, velejava e amava o mar. A menina aprendeu a nadar antes mesmo de aprender a andar.
Aos treze anos Gessia começou a apreciar o movimento de surfe nas praias e ficou enlouquecida. A avó presenteou Gessia com uma prancha Glaspac MK-2. Vera, a Biuta, irmã mais nova, também ganhou uma, e juntas, passaram a dividir as ondas e as alegrias com as
amigas. Logo a turma de amigos de São Paulo, do Colégio Santa Cruz, passou a frequentar a casa, entre eles Christian Frutig, Maurício Verdier, Pinho, João Carlos Iverson e José Luís Hirota. Essa turma pouco a pouco se juntou com a galera de Santos, entre eles Eduardo Piolho e Pedro Costa e Silva. A área da casa era grande, tinha uma imensa varanda que servia de guardaria das pranchas. Christian Frutig, o Chaine, gostava de fazer reparo e o espaço virou uma mini oficina. O talento do garoto iria transformá-lo em um dos mais importantes shapers da época. Chaine desenvolveu o modelo MK-3 da Glaspac. Depois ele criou sua própria marca, a
Surf Champion, e também foi pioneiro nas pranchas Windgliders, para Windsurf.
Em 1968 Gessia se inscreveu no Campeonato Paulista, o segundo da história, mas não avançou nas baterias. Era o dia do aniversário do pai e a tradição de família rezava juntar todo mundo no barco e seguir até Angra para comemorar nas ilhas cariocas. A amiga Renata Polisaitis venceu a disputa. Em 1967 a paulistana foi a única menina a participar do campeonato estadual. O surfe
feminino e competitivo dava seus primeiros passos em São Paulo.


No ano seguinte nova frustração. A casa foi vendida para abertura da avenida e o pai comprou uma nova casa na Barra do Sahy. Sem a frequência e a potências das ondas do Guarujá, Gessia se separou a turma de Santos, e pela dificuldade de alcançar as praias com ondas, foi deixando o surfe de lado.


Nos anos 1970 Gessia passou a ter outros interesses, mas sem abandonar o mar. Seu círculo de amizades cresceu e ela dividia a rotina da faculdade de Administração de Empresas no Mackenzie, durante a semana com o esqui aquático e a vela aos fins de semana no Guarujá.
Hoje ela continua frequentando a Barra do Sahy onde rema até as ilhas de caiaque. Casada com o advogado Fernando Albino, Gessia nunca abandonou o tênis, atividade que pratica desde os 15 anos no Clube Paulistano. Na área da saúde, ela não seguiu o legado dos centros cirúrgicos do pai, mas especializou-se em administração hospitalar, na construção e decoração de hospitais, tornando o ambiente mais humanizado e moderno.


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Pesquisador das Histórias do Surfe @diniziozzi – O Pardhal