Cultura

Pedido de Casamento

Extraído do livro Marinheiras e Brejeiras I – Mais de uma em cada porto

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Leonardo trabalhava na Marinha Mercante, na função de mecânico. Era um sujeito boa-pinta, muito jovem e trabalhador, bom funcionário, cumpridor de seus deveres. Por ocasião de uma longa escala do navio no porto de Salvador, apaixonou-se por uma jovem morena chamada Nilza. De tal maneira, que chegou a comprar uma pequena casa na cidade e lhe prometeu casamento.

Leonardo, após a aquisição do imóvel, pensou, pensou e disse para Nilza:

– Essa casa precisa de algumas reformas.

E garantiu seu casamento com a moça assim que terminasse algumas obras em sua modesta residência.

A jovem Nilza afirmou que só poderia se casar com o consentimento de sua mãe, uma vez que seu pai era desconhecido. Leonardo vestiu sua melhor roupa, seu único terno, comprou uma gravata nova, usou um bom perfume, engraxou bem os sapatos, ensaiou algumas frases compostas e foi à presença de sua futura sogra, a fim de pedir a jovem Nilza em casamento.

Leonardo conheceu Dona Alice, mãe de Nilza, mulher de pouca idade, mas que vivia muito sozinha. Ela gostou do futuro genro. Agradou-se da escolha da filha, abençoou a união do casal, porém só consentiu no casamento de Leonardo com Nilza depois que as obras na casa fossem concluídas.

Assim, Leonardo, antes de uma longa viagem, deixou um bom dinheiro em poder de sua futura esposa, que ficou encarregada de acompanhar as obras. Prometeu à noiva que, mesmo distante, faria o possível para enviar recursos para o acabamento da casa. E por ocasião do seu regresso, o casamento seria devidamente consumado.

O navio do Leo partiu para uma longa viagem. Seguiu para o Oriente, sem perspectiva de regresso. Entretanto, durante as estadias nos portos, ele, vez por outra, telefonava para sua noiva, a fim de trocar juras de amor e conversar sobre o andamento das obras. Em alguns portos, com a devida assistência do Banco do Brasil e do Consulado Brasileiro era possível a Leonardo enviar recursos para sua amada. Esta saga durou sete meses e alguns dias, quando, enfim, seu navio regressou a Salvador.

Leonardo desembarcou com muita pressa. Dirigiu-se para sua residência, pois estava muito ansioso para ver sua casa totalmente concluída. Contudo, ao chegar em frente ao portão, olhou para a modesta casa e não notou diferença alguma. Abriu a porta principal, olhou todos os cômodos e constatou que “estava tudo como dantes no quartel de Abrantes”.

– Nada mudou. Tudo ainda por fazer! O que houve? O que ocorreu? Para onde foi o dinheiro que deixei e que enviei para Nilza? – Exclamou Leonardo.

Ele estava muito confuso e assustado. Não tardou dois minutos, chegou a noiva, acompanhada de uma linda mulher. Leonardo, muito furioso, se esquivou de qualquer cumprimento efusivo e amoroso de sua amada e gritou para Nilza:

– Você está de brincadeira comigo. Não fez obra nenhuma, me enganou todo esse tempo. O que você fez com o dinheiro que lhe deixei?

Nilza respondeu com paciência:

– Meu amor. Eu sei de sua dedicação. Entretanto, minha mãe está na idade madura e sentia-se muito sozinha. Então, aproveitei os recursos para que ela fizesse uma completa operação plástica. E apontando para a mulher que a acompanhava, comentou:

– Veja como ela ficou bonita!

Leonardo, a princípio, não reconheceu Dona Alice, totalmente modificada. Em seguida, rebateu irritado:

– O quê? Que loucura foi essa? Eu não lhe deixei dinheiro para recauchutar a minha sogra. O dinheiro tinha o único propósito de acabar a nossa casa.

– Meu bem, entenda. Para nossa casa, não temos pressa nenhuma, podemos ganhar mais dinheiro, mas a mamãe está na idade madura e precisa ter boa aparência para arrumar um companheiro, pois, do contrário, ela teria que morar com a gente.

Leonardo, definitivamente, não aceitava aquela traição financeira, mas internamente admitia que sua sogra havia ficado mais bonita depois da suntuosa operação plástica. Dona Alice, antes tímida e encabulada, já arriscava vestir uma justa minissaia, colada ao corpo, e um ousado decote, bem insinuante.

De fato, a grande transformação consistiu em levantar as nádegas caídas, sarar todas as pequenas varizes, fazer um bom e rigoroso regime, suprimir os pés de galinha, tirar um pouco de papa, repuxar os olhos, eliminar olheiras, esticar o rosto, remodelar pernas, retirar culotes, encher o busto, alterar o corte e a cor dos cabelos, constantes limpezas de pele, constante utilização de cremes hidrantes, visitas à Socila e, ainda, duas lipoaspirações abdominais. De fato, ela ficou uma coroa muito enxuta.

Dona Alice, ao perceber o descontentamento no olhar do Leonardo e o apelo dramático da filha, exclamou:

– Por favor, meus queridos, vamos sentar para conversar.

Naquele momento, sentou-se no sofá, cruzou as pernas e deixou aparecer um lindo par de coxas muito bem desenhadas e muito atraentes, algo que ela escondia há muito tempo. Leonardo, que vinha de uma viagem de sete meses, arregalou os olhos para aquele monumento feminino, maduro e muito tentador. Ficou em silêncio por quase um minuto e depois, numa só frase, resumiu seu destino e resolveu a questão dizendo:

– Nilza! Quero me casar com sua mãe, que ficou muito gostosa.

-Nada disso, Leo. Você prometeu que iríamos viver juntos para sempre.

Leonardo retrucou:

– E vou cumprir a minha promessa. Caso com a minha sogra e você vem morar com a gente.

Nilza, no início, resistiu muito, mas, com o passar do tempo, aceitou. Leonardo arranjou um emprego em uma oficina mecânica, casou-se oficialmente com Dona Alice e seguiu a vida.

No final desse episódio, Leo saiu ganhando e perdendo ao mesmo tempo, pois ficou com duas mulheres, mas, em compensação, com duas despesas e duas famílias. As obras na casa foram feitas em parte, em sua moiraria, provisorias. Passado alguns anos vieram os filhos. Leonardo teve dois filhos com Nilza que eram netos de Alice ao passo que sua filha com Alice era irmã de Nilza. Desse jeito, os filhos da Nilzsa também eram irmãos da filha da Alice; quando Leonardo passava alguns dias fora com Alice, podia-se dizer que sua filha era criada com a tia, e quando Leonardo passava alguns dias fora com Nilza, podia-se dizer que os filhos de Nilza eram criados com a avó.

Uma certa confusão em família foi criada, pois os filhos de Nilza diziam:

– Meu pai é casado com minha avó.

A filha de Alice apresentava:

– Meu pai tem dois filhos com a minha tia, que são meus irmãos e primos, também.

Nilza comentava:

– Minha sobrinha é filha de minha mãe.

Dona Alice também comentava:

– Meu marido tem dois filhos com minha filha.

Passaram-se mais alguns anos. As crianças foram crescendo. A velha e surrada casa estava pequena para tanta gente e carecendo de reparos, exatamente como “dantes no quartel de Abrantes”. Quando, então, Nilza começou a resmungar que estava flácida, meio gorda, seios um pouco caídos, culotes crescidos e Dona Alice resmungava também que estava perdendo seu charme de coroa enxuta, enfim , questionaram Leonardo se lhe interessava fazer uma nova reforma na casa. Leonardo pensou, pensou e disse:

– Sim , acho que vou fazer uma grande reforma nessa casa.

E suas companheiras sugeriram:

– Por que você não volta para o mar e faz uma viagem?

IMG-20180620-WA0246Francisco Cesar Monteiro Gondar

  • Capitão de Longo Curso.

  • Comodoro da Marinha Mercante Brasileira, 43 anos de vida marítima, sendo 30 anos na função de comando.

  • Embaixador da IMO – ORGANIZAÇÃO MARÍTIMA INTERNACIONAL no Brasil.

  • Doutor em Ciências Navais pela Escola de Guerra Naval.

  • Pertence ao Corpo Diplomático Mundial de Segurança e Paz como Embaixador Humanitário da Paz do WPO: Word Parlament Of Security and Peace.

  • Completou 2.534.759 milhas navegadas em 9.382 dias.

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    Navio Horta Barbosa Foto: Andreas Hoppe (Shipspotting.com) cenário da história

     

Nome: HORTA BARBOSA
Tipo: Navio-tanque mercante a motor
Nº IMO: 7001261
Porte Bruto: 116.473 t
Arqueação Bruta: 62.619
Arqueação Líquida: 47.008
Construção: 1969 – Odense Staalskibs A/S, Lindo, Dinamarca
Casco: 29
Armador: Petrobras S.A. – Frota Nacional de Petroleiros – FRONAPE
Porto de Registro: Rio de Janeiro
Prefixo: PPCR
Comprimento: 271,70 m
Boca: 42,10 m
Pontal: 19,61 m
Calado: 14,99 m
Motorização: Um motor diesel B & W; 2T; cilindros (); A/S Burmeister & Wain Maskin og Skibsbygeri, Copenhague, Dinamarca
Potência: 23.200 BHP
Hélice(s): 1
Velocidade: 16,0 nós
Consumo: 80,0 t/dia
Combustível: 5.600 m3
Tripulantes: 36
Passageiros: 0
Derrota: N/A
Tanques: 15
Carga: Carga líquida: 141.621 m³
História do Navio: Em 1969 a sua quilha foi batida. Em 11 de outubro de 1969 foi lançado para a Petrobras S.A., Frota Nacional de Petroleiros-FRONAPE, Rio de Janeiro, sendo batizado como HORTA BARBOSA. Em dezembro de 1969 a sua construção foi construída. Em 1994 foi transformado em navio-cisterna. Em 23 de setembro de 1998 foi sucateado em Chittagong, Bangladesh.

 

Fonte: <http://www.navioseportos.com.br/site/index.php/uteis/biblioteca-digital/navios/592-horta-barbosa-1969>

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