Dia 12 de outubro, além de ser o Dia das Crianças, é dia santo brasileiro, feriado nacional – quando comemoramos o dia de Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil.
O amanhecer do dia 12 de outubro de 1975 caía em um domingo. Nosso navio concluía uma travessia pelo Atlântico, regressando da Europa para o Brasil, depois de uma viagem tranquila e feliz. Já estávamos em águas brasileiras, contudo bem longe da costa.
Quase ao final da madrugada, o oficial de serviço na ponte de comando, assustou o Comandante com um telefonema, dizendo que avistou no céu, por bombordo, luzes de estrela vermelha como que disparados por foguetes sinalizadores, com a nítida impressão de que alguém estava pedindo socorro.
Ato contínuo, o Capitão subiu ao passadiço e, minutos mais tarde, com o dia amanhecendo, constatou bem próximo ao navio outro sinal luminoso com luz vermelha, confirmando o sinal de socorro. Ou seja, alguém estava realmente em perigo.
O Comandante alterou o rumo em direção ao sinal e reduziu a máquina, pois estávamos perto do sinistro. Foi tocado postos de emergência, com o staff da máquina em standby. O Contra-Mestre foi acionado e este logo chamou os marinheiros. As boias, coletes, escadas e cabos foram preparados para uma faina de resgate. O Rádio-Telegrafista também foi acordado para transmitir eventuais mensagens. O enfermeiro ficou de prontidão, com remédios, analgésicos, material para queimaduras, suturas e maca para transporte. Até o cozinheiro e taifeiros ficaram em atenção, para suprir alguma necessidade de alimento ou água. Enfim, em um curto espaço de tempo, foi montado um grande aparato de emergência, para receber os prováveis náufragos.
Não demorou muito, com o dia clareando, apareceu na proa do navio um pequeno e tímido barco de pesca. O navio aproximou-se do barco, parou as máquinas e o pesqueiro suavemente tocou o nosso costado.
O Comandante e o imediato rapidamente desceram ao convés principal. Os tripulantes também correram ao convés e, debruçados na borda, viram que dentro daquele pequeno barco simples e de pouquíssimos recursos havia somente dois homens: dois pescadores brasileiros, bem distantes da costa.
O Capitão dirigiu a palavra a ambos, que aparentavam estar muito bem. Assim, questionou os pescadores:
– Vocês sabem onde estão, sabem da sua posição?
– Sim, sinhô, seu moço, sabemo donde estemo.
– Vocês querem alguma orientação para voltar à costa?
– Não, sinhô, nóis num pricisa disso, não, sinhô. Daqui, nóis volta sozín.
Naquela época não havia GPS e pescadores artesanais não possuíam nenhum meio de comunicação, quer seja de rádio ou VHF.
O Capitão voltou a perguntar:
– Vocês precisam de alguma ajuda: água, pão, víveres, remédios?
– Não, seu moço, aqui tá tudo bem com nóis, tudo.
– Então, se vocês não precisam de nada, por que razão soltaram os fogos sinalizadores?
– Seu moço, é que hoje é dia de nossa padinha, Nossa Sinhora Paricida. O sinhô num tem aí uma cachacinha pra nóis comemorá?
Francisco Cesar Monteiro Gondar é:
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Capitão de Longo Curso.
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Comodoro da Marinha Mercante Brasileira, 43 anos de vida marítima, sendo 30 anos na função de comando.
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Embaixador da IMO – ORGANIZAÇÃO MARÍTIMA INTERNACIONAL no Brasil.
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Doutor em Ciências Navais pela Escola de Guerra Naval.
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Pertence ao Corpo Diplomático Mundial de Segurança e Paz como Embaixador Humanitário da Paz do WPO: Word Parlament Of Security and Peace.
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Completou 2.534.759 milhas navegadas em 9.382 dias.
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