Por Altemir Gregolin
O mundo, em toda sua história, assistiu a quatro revoluções tecnológicas. Tais revoluções são fruto de tecnologias disruptivas, ou seja, tecnologias assentadas em novos fundamentos, que tem a capacidade de
promover transformações profundas na economia e na dinâmica social. A primeira ocorreu no final do
século XVIII com a invenção da máquina a vapor.
A segunda, no final do século XIX com a invenção da eletricidade e o motor a combustão. A terceira,
na segunda metade do século XX com o surgimento do computador, internet e automação. E a quarta
está em curso com o advento da Internet das Coisas, digitalização, inteligência artificial e a robotização.
Vejam que a distância entre estas revoluções tecnológicas foi se estreitando e as transformações são cada vez mais rápidas e impactantes nos sistemas produtivos e na sociedade. E os segmentos e empresas que não
incorporarem tais tecnologias vão perdendo competitividade e sendo alijadas do mercado.
Com esta preocupação, o IFC Brasil promoveu no mês de junho uma série de lives com empresas
e especialistas da cadeia de pescados, como o secretário Adjunto da Secretaria de Aquicultura e
Pesca do MAPA, Jairo Gund, discutindo a produção e adoção destas novas tecnologias pelo setor.
Do rico debate realizado podemos destacar quatro conclusões muito positivas:
1 O grande interesse demonstrado pelo tema, pela ampla e qualificada audiência em todas
as lives realizadas;
2 As indústrias de máquinas, equipamentos e software, focadas na cadeia do pescado,
têm evoluído muito e desenvolvido uma série de tecnologias fundadas nas inovações da
indústria 4.0;
3 A cadeia produtiva de pescados, em especial a indústria de processamento e os
aquicultores, tem se empenhado em adotar as novas tecnologias que estão sendo disponibilizadas no mercado;
4 Muitas novidades tecnológicas foram lançadas; a exemplo da filetadora de tilápia pela Marel; as empacotadoras inteligentes apresentadas pela MQPACK; o software que promove a integração de várias máquinas, registrando informações e promovendo rastreabilidade, pela ATAK Sistemas; os alimentadores inteligentes que, por meio de sensores de temperatura d’água, são capazes de decidir quantas vezes ao dia e em quais momentos devem alimentar os peixes, e os aeradores, em desenvolvimento, com sensores que detectam os níveis de oxigênio e são capazes de decidir desligar ou ligar os equipamentos, economizando energia (em fase de desenvolvimento), pela
Cadoma Aquicultura Inteligente; alimentadores desenvolvidos pela Cardinal, também com
sensores, que detectam, além da temperatura, o nível de oxigênio e luminosidade e definem
as quantidades e os melhores momentos para alimentar os peixes, além dos alimentadores
programados com a quantidade de ração correta para cada tanque de peixes a ser alimento, pela Trevisan Eq. Agroindustriais. Estes exemplos demonstram de forma cabal que a revolução tecnológica da indústria 4.0 já é uma
realidade para muitos no setor de pescados.
Há, porém, um dilema perturbador para todos os que fazem da produção de pescados seu objetivo de vida. Se por um lado, as novas tecnologias trazem um conjunto de benefícios para o setor produtivo e para a sociedade e sua
adoção é fator determinante para a competitividade, existem impactos negativos que precisam
ser discutidos e mitigados. Além do desemprego que podem gerar na indústria, como ficam
as empresas que, não tendo capacidade de investir, correm sérios riscos de serem excluídas
do processo produtivo? E como ficam os pequenos aquicultores que, ao não ter capacidade
financeira, formação e assistência técnica, inexoravelmente perderão competitividade e serão forçados a abandonar a atividade?
Há um conjunto de medidas que precisam ser adotadas para minimizar tais impactos. E envolvem ações de governo, como a disponibilização de linhas de crédito facilitadas, assistência técnica e capacitação. E ações das micro e pequenas empresas e pequenos e médios aquicultores na busca de capacitação e, principalmente, de organização de cooperativas para fortalecerem-se e poder enfrentar os novos desafios do mercado.
A ordem é arregaçar as mangas e agir. Como diz o ditado: cochilou, o caximbo cai. Mãos à obra.
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