Contra-vento e condições quase que extremas levaram velejadores à exaustão e marcaram uma série de desistências na Regata mais difícil e tradicional do Brasil.
Carioca SORSA III termina como o Fita Azul pelo terceiro ano seguido.
O quarto lugar geral, ficou com o barco carioca Sorsa III do Iate Clube do Rio de Janeiro, o primeiro a cruzar a linha de chegada, entrando na Baía de Guanabara às 2h34min da madrugada de domingo, dia 25. No tempo real foram 37 horas, 48 minutos e 34s. O Sorsa, comandado por Celso Quintela, levou pela terceira vez seguida o tradicional título de “Fita Azul”, dado ao veleiro que chega em primeiro lugar, mas no tempo corrigido acabou em quarto.
“Aprendemos a fazer isso (chegar como Fita Azul). O barco é muito bom e sempre contamos com tripulação de extrema qualidade, condições bastante difíceis, nada extraordinário, mas muito penoso. Na minha memória recente, essa foi a mais pesada Santos-Rio”, disse Quintela.
Com número recorde de 68 barcos e 500 velejadores de todos os cantos do país, os velejadores da 70ª edição da Santos-Rio enfrentaram condições quase extremas, numa das mais difíceis das sete décadas da tradicional regata do calendário da vela brasileira.
Com vento de proa persistente na casa dos 30 nós, metade da flotilha acabou tendo problemas, desistindo na região de Angra dos Reis.
O veleiro carioca Ventaneiro 3, comandado por Renato Cunha, foi o campeão geral e vencedor na classe ORC com 42 horas, 47 minutos e 4 segundos, no tempo corrigido ficando com 34 horas, 34 minutos e cinco segundos, deixando em segundo lugar o Xamã Red Nose, do Yacht Club de Ilhabela (SP), comandado por Sergio Klepacz e o Rudá Blue Seal, barco de Santos (SP), finalizando em terceiro. O Blue Seal é comandado por Mario Martinez e teve na tripulação Martine Grael, campeã Olímpica na Rio-2016 e uma das candidatas à medalha em Tóquio-2021.
Renato Cunha comemorou a vitória e lembrou da conquista desafiadora na regata Buenos Aires – Rio de Janeiro versão 2017, com condições semelhantes: “Ganhar a 70º edição da Santos – Rio, é uma sensação maravilhosa que,contou com recorde de inscritos, a nata da Vela brasileira”. E adiantou:“Excepcional, estamos todos muito felizes. Tivemos participação de três velejadores do Optmist, três mirins entre eles meu filho Zion, de 11 anos, que já carimbou o diploma de velejador Santos-Rio. Uma regata de ‘endurance’, tripulação que mostrou muita determinação e somados ao barco que, atende bem às duras condições”.
Veleiro de Martine Grael chega no pódio.
Disse Martine Grael: “Foi um grande aprendizado completar essa 70ª Santos Rio com frente fria e contra-vento. Pegamos marés gigantes e progresso bem lento. A primeira noite foi muito molhada. Chegamos a pegar 30 nós de vento. Enquanto fizemos algumas trocas de vela de proa que, nos resultou em um velejar mais confortável, mas com água em cada pedaço da roupa. Um pouco de água salgada pode ter causado falha em nossos instrumentos. Avistei a ilha grande logo antes do meio-dia, fizemos estimativas de 2, 3 ou 4 horas para passar por ela mas, a realidade é que com ondas e corrente contra, velejamos mais de seis horas para entrar na restinga de Marambaia. A última noite foi bem fria, o cansaço bateu, só que dentro do barco ficou impraticável o descanso. Todos queríamos chegar logo para tomar um banho quente. Quando cruzamos a linha de chegada, foi só comemoração. Missão cumprida. Todas as dores, desconfortos e necessidades do corpo vieram à tona”.
Disse Fernando Thode, do barco Blue Seal: “Regata dura, bastante difícil, avarias nos barcos, abandonos. Foi uma das mais duras que já tivemos, mar grosso, muita onda, mas conseguimos”. Destacou a importância de Martine Grael à bordo: “Além de ser muito boa nas funções de timoneira do barco, também ajudou muito nas manobras, conseguimos dessa forma chegar em boas condições. Óbvio que queríamos ganhar a regata, mas o terceiro lugar no tempo corrigido foi uma boa colocação. Estamos ainda todos doloridos pelos golpes provocados pelas ondas, algumas avarias, mas nada muito grande”.
O Avohai comandado por Lars Grael, duas vezes medalhista olímpico em Seul 1988 e Atlanta 1996, terminou na quinta colocação. Foi a 19ª participação do ícone da Vela brasileira na regata.
“Foi uma regata singular, primeiro pois teve participação recorde, barcos da Marinha, homenagens. A regata em si não foi fácil, basta ver minha imagem que mostra o cansaço. Ondas contra de três, a três metros e meio, vento contra, algumas quebras, pessoas machucadas. Quem chegou aqui no Rio de Janeiro é um vitorioso, prevaleceu o espírito marinheiro. Estivemos próximo do limite em termos de segurança, mais do que isso seria recomendável os barcos abandonarem a regata e procurarem local seguro. Mas esses desafios fazem parte da tradicional Santos-Rio. Não é uma regata fácil. É um percurso difícil seja pela falta, excesso ou, pela mudança de ventos. Requer uma tripulação trabalhando o tempo todo. Nosso barco estreando na regata, teve problemas com as velas, as genoas, elas rasgaram, ficamos sem opção. O certo seria abandonar a regata, mas improvisamos usando parte velas leves e, parte com velas de passeio que, a performance é muito ruim. No sábado vínhamos em uma boa posição, mas para poder completar abrimos mão de muitas colocações porque não estávamos com vela de regata. Ter chegado aqui é uma vitória”.
Barco de Torben Grael conquista título na classe IRC
O barco Rudá/CBVela, de Santos (SP), que contou com o bicampeão olímpico Torben Grael no comando do time da Vela Jovem brasileira, foi o oitavo barco a finalizar a regata e, conquistou o troféu na classe IRC. Torben e os meninos e meninas entraram na Baía de Guanabara pouco depois das 8h da manhã de domingo.
Sobrinho de Torben, Nicholas Grael, de 23 anos, filho de Lars, comentou a experiência inédita na Santos-Rio, sendo comandado por Torben, o maior campeão da história com oito conquistas, seis como comandante e dois como tripulante: “Foi muito bom. Torben nos transmitiu seu vasto conhecimento, fora toda a segurança e alto desempenho que ele passa por sua experiência”, disse Nicholas: “Ganhamos muita experiência, a regata foi desgastante. A primeira noite com muito vento e água na cara. Tivemos problemas com as velas, duas buchas que explodiram, um grande que rasgou mas, fora isso tudo foi bom. Os perrengues passam e o que fica são os bons momentos. O astral à bordo e o clima foram muito bons. Todos dando o seu melhor, com muita garra e determinação e, obtivemos nosso objetivo que era ganhar a regata”.
O segundo lugar da IRC ficou com o Saravah com Alain Joullliè, com 85 anos de idade que, disputou as regatas de 1952, 1953 e 1954 e não participava há oito anos da Santos-Rio. Seu filho, Pierre Joulliè comandou o barco que teve o neto Felipe, de 14 anos, na tripulação.
O único veleiro comandado por uma mulher na 70ª Santos-Rio, liderado por Elisa Mirow, fechou o pódio na classe.
Na classe BRA-RGS foram quase 30 barcos, entre os atuais e os Clássicos. O campeão de 2019, o BL3 Urca, de Ilhabela (SP) com comandante paraense, Clauberto Andrade, teve problemas e não completou. O grande vencedor foi o Pangea, do Iate Clube de Santa Catarina, de Florianópolis (SC), do comandante Jorge Carneiro, finalizando após quase 53 horas no mar. O barco Zeus terminou em segundo e completou o pódio, o barco Dona Bola.
“Foi uma regata muito dura mas, em nenhum momento nossa tripulação se afobou. Deu tudo certo. Nós sabíamos que estávamos no páreo e ao chegarmos no Rio de Janeiro, vendo que a possibilidade de ganhar era real, demos aquele gás final. Foi uma união bem interessante, com caras mais experientes e outros em sua primeira Santos – Rio. Todos são amigos desde infância e isso ajudou muito. Foi excelente”, comemora o comandante Jorge Carneiro.
A presença da flotilha do Iate Clube de Santa Catarina sempre foi muito marcante na Regata Santos – Rio. Por três vezes, embarcações do Veleiros da Ilha venceram a tradicional competição de vela oceânica, sendo a primeira delas em 1997, com o Gosto D´Água, do Comandante Ildefonso Witoslaswki Junior, atual Comodoro do ICSC, como campeão geral. Já em 1999 e 2000, comandando o Scirocco, o Comandante Inácio Vandressen, ex-Comodoro do ICSC, levou sua tripulação ao bicampeonato.
O comodoro da ABVO, Mario Martinez destaca: “Gostaria de agradecer aos participantes, em especial aos barcos da BRA-RGS que colocaram cerca de 30 na raia, contabilizando os Clássicos. Fomos brindados com uma regata duríssima, digna dos 70 anos desse desafio, comtodas as mais difíceis condições imagináveis para uma Santos-Rio. Também à Marinha do Brasil que, marcou presença com o navio escola Cisne-Branco na largada, ao apoio no percurso e aos barcos que se acidentaram, agradecer ao Iate Clube de Santos, Iate Clube do Rio de Janeiro e CBVela que, mandou sua equipe de jovens talentos. Fica o convite para o 51º Circuito Rio que é o Brasileiro ORC e também ao Brasileiro IRC em Ilhabela no mês que vem”.
Ricardo Baggio, diretor de Vela do Iate Clube do Rio de Janeiro, que já colocava o Ventaneiro 3 como um dos favoritos diante das condições que se apresentavam. Além do barco ser muito bom, venceu a Buenos Aires – Rio com condições semelhantes e tem uma tripulação muito experiente. “Foi um grande sucesso a regata, muito dura, 40 desistências mas, independente disso, foi um sucesso, pela Santos-Rio ter renascido após número muito baixo nos últimos anos. Esses 68 barcos, dá a esperança que ela possa ter maior atenção na vela brasileira”concluiu.
A premiação da 70ª edição da Regata Santos-Rio acontecerá no sábado, dia 31, a partir das 19h, sem a tradicional festa aos velejadores, por conta da pandemia do COVID-19.
Antes, a partir desta sexta-feira, dia 30, será dada a largada para o 51º Circuito Rio, na Baía de Guanabara, até o dia 2 de novembro, que vale como Campeonato Brasileiro da classe ORC.
Resultado Final da 70ª edição da Regata Santos-Rio:
ORC
1 – Ventaneiro 3 – 34h34min05s (tempo corrigido)
2 – Xamã Red Noose – 35h25min02s
3 – Rudá Blue Seal – 37h00min26s
4 – Sorsa III – 37h48min34s
5 – Avohai – 38h11min53s
6 – Maximus – 38h12min44s
7 – Crioula 29 – 39h21min34s
8 – King – 39h59min18s
9 – +Bravissimo – 40h02min32s
10 – Marujo´s – 41h31min13s
11 – Maestrale Due – 46h36min35s
12 – Bravo – 49h16min09s
13 – Vesper IV – Não completou
14 – Inae 40 – Não completou
IRC
1 – Rudá/CBVela – 1 dia, 23 horas, 18 minutos, 59s (tempo corrigido)
2 – Minna 1 – 2 dias, 7 horas, 50 minutos, 8s
3 – Boto V – 2 dias, 8h, 55min 38s
4 – Saravah – 2 dias, 10h 5min 53s
5 – Villegagnon – 2 dias, 11h, 19min 55s
6 – Aries – Não completou
7 – Klimax – Não completou
8 – Montecristo – Não completou
9- My Boy – Não completou
BRA-RGS
– Pangea – 2 dias, 4 horas, 57 minutos, 9 segundos (tempo corrigido)
2 – Zeus – 2 dias, 6h, 26min,19s
3 – Dona Bola – 2d, 9h, 12min, 4s
4 – Xekmat – 2d, 10h,26min,17s
5 – Beleza Pura – 2d,12h, 15s
6 – Aventura III – 2d, 12h, 21min, 5s
7 – Susso 2d, 15h, 43min, 33s
8 – Sagarana – Não completou
9 – Sexta-Feira – Não completou
10 – Tapioca – Não completou
11 – Tuchaua – Não completou
12 – Yallah – Não completou
13 – Zuriel – Ainda na regata
14 – Almaviva VI – Não completou
15 – BL3 Urca – Não completou
16 – Born Free – Não completou
17 – H3+ – Não completou
18 – Kaze – Não completou
19 – Malungo – Não completou
20 – Nativo 2 – Não completou
21 – Panda – Não largou
A 70ª Regata Santos-Rio teve a organização do Iate Clube de Santos em conjunto com o Iate Clube do Rio de Janeiro e conta com os apoios da Associação Brasileira de Veleiros de Oceano, a ABVO, a CBVela, e a Prefeitura de Santos.
Mais informações com Fabrizio Gallas pelo +55 21 994004061, ou <fabrizio@gallaspress.com.br>
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