Por Gabriel Pierin
@gabriel_pierin
Filho de um alemão com uma paraibana descendente de suecos, Klaus Mitteldorf nasceu em São Paulo, no dia 23 de junho de 1953. Aos cinco anos, o paulistano conheceu a praia de Santos e se encantou com os hidroaviões que cruzavam os céus e amerissavam nas tranquilas águas da Ponta da Praia até estacionar nas areias.
Aos 12 anos de idade, Klaus ganhou sua primeira câmera fotográfica e com ela registrou os momentos e descobertas da sua juventude ao lado dos amigos. Em 1974, aos 21, ele entrou para a Faculdade de Arquitetura de Mogi das Cruzes. Klaus ainda não tinha definido suas escolhas, mas mirava o seu futuro na estética visual das obras e realizações humanas.
Muito além do conhecimento técnico transmitido no curso de Arquitetura, Klaus descobriu um outro mundo de possibilidades. O universo da faculdade contemplava uma diversidade de pessoas e de pensamentos. Alguns dos seus novos companheiros de classe e de curso eram surfistas, entre eles Miguel Calmon, Carlos Motta, Guilherme Mendes da Rocha e Vaselina da cidade de Santos. Especialmente ao lado de Calmon, Klaus explorou as praias do litoral norte paulista. No fim de 1974 começou a fazer suas primeiras fotos na Praia das Toninhas, Vermelha e Itamambuca em Ubatuba e as do Tombo e do Pernambuco, em Guarujá.
A inspiração de Klaus não vinha das manobras, das ondas ou do surfista em si, mas acima de tudo do estilo de vida do surfe e daquelas pessoas que desenvolviam, no refúgio das praias, uma contracultura da época, baseada em valores naturais e diferentes sensações.
A experiência de Klaus sempre foi visual. Ele ganhou uma câmera Canon – Super 8 e a partir daí passou a fotografar e filmar o cotidiano em volta de si. Nessa época, Klaus e outros surfistas se reuniam em salões de festas ou clubes para assistir aos filmes estrangeiros de surfe. Atento, ele percebeu as novas possibilidades de ângulos e de fotografia embaixo d’água.
Sem perceber Klaus estava trilhando o grande caminho da sua vida, mas foi Calmon quem lhe propôs o desafio de fazer um filme de surfe. Klaus se inspirou na mensagem e aproveitou o ano de 1975 inteiro para filmar tudo o que era relativo ao surfe, desde a praia, moda, hábitos, cultura do surfe e o surfe dentro d’água. Ele não queria um documentário, mas um filme que mostrasse a relação do ser humano com o surfe no embalo de uma envolvente trilha sonora.
Percorrendo as praias de São Paulo, Rio e Espírito Santo, Klaus buscou filmar o surfe, a fluidez das ondas e a integração do surfista com a natureza. O estudante levava para casa o material onde montou uma pequena ilha de edição, e de modo ainda muito artesanal, cortava e aplicava as letras. Ele também obteve algumas dicas nas conversas com o famoso cineasta Jean Manzon, padrasto do seu amigo Gustavo Korte.
No final de 1975, com o filme pronto, Klaus criou um cartaz de divulgação e organizou a venda de ingressos para a exibição em salões de festas. Com a ajuda de amigos o lançamento atraía um público de 100 a 200 pessoas. A experiência caseira acabou virando o primeiro filme brasileiro de surfe: o Terral.
No ano seguinte, o jovem fotógrafo e cineasta comprou uma câmera Beaulieux, mais moderna e com mais recursos, viajou para a África do Sul e em 1978 para o Havaí. Com as novas viagens e filmagens ele acrescentava as novidades ao original.
Em 1982 a TV Cultura convidou Klaus para uma entrevista e promoveu o filme. Os surfistas Cisco Arana e Paulo Issa, e Jean Pierre Projin da Acqua Surfboards, estavam entre os presentes. Aquele evento marcou a primeira transmissão televisiva do Terral. Foi a sua certidão de nascimento para o público nacional. Um marco para a memória do surfe e para a carreira do grande fotógrafo e cineasta Klaus Mitteldorf.
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