ESPORTE Surf

Surfe nas Olimpíadas

Por Gabriel Pierin

Duke Kahanamoku é considerado o pai do surfe moderno. Ele aproveitou suas viagens em participações olímpicas para promover o surfe pelo globo. Duke conquistou sua primeira medalha olímpica como nadador, no verão de 1912, em Estocolmo, na Suécia. Seus feitos nos Jogos de Antuérpia (1920) e em Paris (1924) lhe consagraram como o waterman havaiano.

Duke fez mais do que isso. Há mais de cem anos pedira ao Comitê a inclusão do surfe nos Jogos Olímpicos. Após um século o pedido foi atendido. O surfe estará presente nas Olimpíadas de Tóquio.

Em outro oceano, já no ano de 1986, o surfe continuava como uma realização olímpica improvável e um sonho distante para os surfistas santistas que se reuniram no Ginásio do Rebouças, em Santos. Porém, naquela noite, um passo importante foi dado na cidade com a criação da Associação de Surf da Baixada Santista. Entre eles estava Marcos Bukão.

Nascido em Santos, Bukão começou a surfar em 1972. Ainda no início dos anos 80 já organizava campeonatos de surfe pela antiga Associação de Surf de Santos. Presidente e co-fundador da Associação de Surf da Baixada Santista (ASBS), assumiu a Federação Paulista de Surf, no início da década de 90. 

Após essa experiência, Bukão nunca mais teve participação em cargos eletivos ou administrativos no surfe, se dedicando à parte técnica. O santista foi Diretor de Provas da Federação Paulista de Surf até 2020 e da ABRASA (Associação Brasileira de Surf Amador), atual Confederação Brasileira de Surf. 

Sua experiência internacional começou em 1992, no Mundial da ISA em Lacanau, na França. Naquela ocasião Bukão era o team manager da equipe do Brasil e conheceu Fernando Aguerre criador da PASA (Pan American Surfing Association). Em 1994, Aguerre se elegeu Presidente da ISA e convidou Bukão para ser o Diretor de Provas da entidade.

O sonho olímpico começou a tomar forma em 1996, quando o COI reconheceu a ISA como a entidade oficial do surfe a nível mundial. Naquele momento a participação do surfe nos Jogos ainda era algo distante e impensável para muitos. Nesse ponto, destaca-se a determinação do Fernando Aguerre, que literalmente incorporou o sonho olímpico de Duke Kahanamoku e passou a dedicar todas suas energias para esse fim. 

Foi uma longa trajetória, com muita luta para conseguir criar e filiar-se a seus respectivos Comitês Olímpicos Nacionais, ao número necessário de Federações Internacionais exigidos pelo COI, além de incontáveis reuniões, congressos e gestões junto aos membros do COI mostrando a viabilidade do surfe numa Olimpíada. 

Bukão foi designado pela ISA para unir o continente africano, até pelo fato da presença de vários países de língua portuguesa. Foram congressos em Marrakesh, no Marrocos, em Bamako, no Mali, entre outros, onde se abordava o quanto o surfe é interessante para um país, não só em termos esportivos como também de fomento ao turismo e inserção social. 

Foram vinte anos de luta. Quando o COI anunciou a inserção do surfe nos Jogos do Rio em 2016, não foi algo por acaso ou natural. Foi fruto de um trabalho enorme da ISA. Nesses anos de ISA foram realizados eventos em 34 países, incluindo eventos de LongBoard, Juniores, Masters e Stand Up Paddle.

E agora, o ponto alto da carreira de qualquer pessoa ligada ao esporte: uma Olimpíada. Toda a formatação e adaptação do esporte aos Jogos já foi algo desafiador e emocionante, pois desde o início havia a consciência de que nos Jogos o surfe deveria se adaptar aos padrões e protocolos das Olimpíadas e não o contrário. 

Enfim, participar da realização de uma Olimpíada era algo impensável para Bukão naquela noite em 1986 no Ginásio Rebouças quando foi criada a Associação de Surf da Baixada Santista e estava há um século de distância do pai do surfe moderno, Duke Kahanamoku. Um sonho realizado.

Equipe do Museu do Surfe

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