A ligação do surfe na cidade de Santos com a bebida mais consumida no mundo, o café, não é apenas coincidência. A cidade de Santos abriga o maior porto exportador de café do mundo. O cobiçado produto se confunde com a própria história de Santos. Não é exagero dizer que o café moldou a cidade, seus hábitos, cultura e atrativos. A riqueza gerada pelo café impulsionou o comércio e a vida em Santos.
A apreciada bebida percorreu o planeta partindo do Porto de Santos, situado nessa pequena ilha protegida do Atlântico Sul. O charme dos tempos de outrora atraiu produtores do interior, ricos comerciantes e negociantes estrangeiros para a cidade.
O surfe e o projeto de construção das primeiras pranchas, as tábuas havaianas, chegaram, pelas mãos desses comerciantes, em publicações estrangeiras como a Popular Mechanics e a Modern Mechanix and Inventions Magazine. O domínio de outras línguas, a ligação dos jovens com esportes aquáticos e a intimidade das famílias com as atividades cafeeiras, portuárias e navais impulsionaram o início do surfe na cidade.
Na década de 1930 essa conjunção de fatores permitiu a esse grupo de jovens deslizar nas águas do mar sobre suas pranchas, enquanto escrevia as primeiras linhas da história do surfe no país.
As famílias dos pioneiros do surfe Thomas e Margot Rittscher, Osmar Gonçalves e Jua Haffers eram todas ligadas ao comércio cafeeiro e pertenciam a Associação Comercial de Santos, uma das mais renomadas instituições da cidade. O trabalho voltado à exportação de café possibilitou não apenas o comércio, mas também o intercâmbio cultural entre países e pessoas.
Um intercâmbio que começou pela diplomacia ainda no Brasil Imperial. O primeiro soberano estrangeiro que pisou no país independente foi o rei do Havaí Kamehameha II, em 1824. Ele esteve no Rio de Janeiro e foi recebido com festa pelo Imperador D. Pedro I.
A primeira visita de havaianos no Brasil tinha como destino a Inglaterra. D. Pedro I recepcionou a comitiva real havaiana no Rio de Janeiro, antes que a viagem à Londres prosseguisse. Kamehameha presenteou o imperador brasileiro com um manto de penas de pássaros dos antigos chefes do Havaí, um dos mais altos símbolos da cultura tradicional havaiana. O presente foi dado em retribuição a uma espada oferecida pelo imperador do Brasil.
Os membros da comitiva de Kamehameha II também tiveram contato com café e açúcar no Brasil, descobrindo o potencial comercial desses produtos. Na viagem de volta, a comitiva fez outra parada no Rio de Janeiro, onde obteve o material propagativo para começar o cultivo do café nas ilhas, em 1825.
Assim como o café, o surfe segue conquistando cada vez mais adeptos em todo o mundo. Do ocidente ao oriente, de norte a sul, o surfe transforma a relação das pessoas com as praias, despertando o verdadeiro espírito aloha de comunhão com a natureza.
Nos últimos anos, a China e a Índia apontam para o crescimento do surfe, abrindo novas oportunidades de mercado para os brasileiros, que atualmente ocupam o lugar mais alto do esporte no mundo. Hoje, o país possui quatro campeões do Circuito Mundial: Gabriel Medina, Adriano de Souza, Ítalo Ferreira e Filipe Toledo e o primeiro campeão olímpico da história: Ítalo Ferreira.
A Associação Comercial de Santos e a Surf & Café Expo (exposição dos pioneiros do surfe no Brasil) estarão juntas no XXIV Seminário Internacional do Café – Santos, um evento bienal que reúne produtores, pesquisadores e representantes da indústria de café de todo o mundo para discutir os desafios e as tendências do setor.
Que tal um cafezinho sobre as ondas?
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Coordenador de pesquisas históricas do Surfe @diniziozzi – o Pardhal
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