ESPORTE Surf

Rico, o Embaixador do Surfe

Por Gabriel Pierin

Ricardo Fontes de Souza nasceu no Rio de Janeiro, em 12 de junho de 1952 e cresceu no Leblon, na casa número 31 da Rua João Lira, na quadra da praia. A maioria dos amigos gostavam de jogar pelada na praia. Rico gostava mesmo era do mar. Desde pequeno ele pegava jacaré, pescava de linha ou de mergulho.

O divisor de águas na sua trajetória foi quando viu uma revista importada mostrando o Havaí e o surfe. Ele soube imediatamente o que faria da sua vida. Rico tomou a revista nas mãos e apontou a reportagem para o seo Sebastião: “Pai, esse vai ser o meu esporte”. As revistas chegavam pelas mãos dos estadunidenses que serviam às Forças Armadas e viviam no Brasil durante a Guerra do Vietnã. Época em que o movimento do surfe ganhava cada vez mais espaço no Arpoador, com os mergulhadores experimentando a nova sensação em dias que o mar não estava para peixe.

O pai, Sebastião Vianna de Souza, mineiro da cidade de Curvelo, nascido em 1901, morreu quando Rico tinha apenas 16 anos. Apaixonado por futebol, Vianninha, como era conhecido, foi goleiro do Flamengo nos anos 1920. Emancipado, Rico encarou o mundo e viveu a vida sem o apoio paterno, mas venceu ao lado dos irmãos e da mãe.

Em 1964, aos 12 anos, começou a vender os chumbos das construções de Ipanema e do Leblon, jornais e garrafas, juntou dinheiro e comprou sua primeira madeirite. Dois anos depois comprou sua primeira prancha de fibra de vidro da Surfboards São Conrado.

Rico era muito bagunceiro e trocou muitas vezes de escola. No Santo Agostinho, instituição de ensino tradicional da capital carioca, acabou expulso. Dessas experiências sobraram as muitas amizades. Ele fez o Exame 99 na Academia Militar, em Rezende, e ingressou no Científico. Ele foi o único entre os amigos que conseguiu passar no teste.

O surfe competia com os estudos e as idas ao Arpoador tornavam-se mais frequentes. A caminhada era longa, cerca de quatro quilômetros. Para vencer o cansaço, ele e o amigo inseparável, Carlos Roberto, o Mudinho, adaptaram um suporte na bicicleta e passaram a fazer o percurso no pedal.

Em 1966 Rico começou a shapear pranchas, descascando e refazendo o molde. Mais tarde passou a comprar o bloco com o Coronel Parreiras, da São Conrado. Surgiria assim, anos depois, a marca Yokohama Surfboards.

Sua primeira viagem foi a Santos, em 1968, quando participou do Campeonato Aberto do Ilha Porchat. Rico, com apenas 15 anos, foi o campeão da categoria infantil. A viagem inesquecível foi a bordo do icônico navio Eugênio C. Ele partia da Praça Mauá, no Rio, com destino a Santos. Nessa surftrip, Rico, Mudinho, Carlinhos e Alê do Posto 5, Maraca, Beto, Barriga e Pupo Moreno (futuro campeão da Fórmula Indy) ficaram hospedados na casa do Betinho Medeiros, filho do presidente do Caiçara Clube.

Em 1972 sagrou-se campeão brasileiro no Festival de Surf, em Ubatuba, realizado na Praia Grande. A conquista do campeonato credenciou Rico para a disputa do Mundial na Califórnia. A passagem foi dada pelo Flávio Cavalcante, apresentador do famoso programa de calouros da TV Rio.

Depois da estada na Califórnia, mudou-se para o Havaí onde dividiu uma casa com os australianos Ian Cairns (que se tornaria presidente da IPS), Peter Townend (futuro campeão mundial, em 1976) e Mark Warren, presidente da Quiksilver, além do sul-africano Mark Larmont. Em 1973, de volta ao Brasil, disputou e venceu novamente o Festival Brasileiro de Surf, em Ubatuba, dessa vez na Praia de Itamambuca.

O surfista continuou colecionando recordes e conquistas: tricampeão brasileiro de Longboard, vice-campeão mundial amador em 1988, vice-campeão mundial profissional em 1989 (ASP), seis recordes mundiais registrados no Guiness.

Rico sempre batalhou em promover o esporte e a cultura do surfe. Levou o Museu do Surf para diversos lugares, inclusive ao AquaRio, atração turística visitada por milhões de pessoas, surfou com a tocha olímpica e se orgulha de ter transmitido o legado aos seus filhos. Hoje, o embaixador do surfe promove o Aloha Podcast voltado ao esporte. A primeira entrevista foi com o surfista santista e amigo Picuruta Salazar, um dos maiores ídolos do surfe.

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Coordenador de pesquisas históricas do Surfe @diniziozzi – o Pardhal