Por Gabriel Pierin
Otávio Pacheco nasceu no coração de Ipanema, no ano de 1952. O menino do Rio foi criado brincando nas pedras do Arpoador. Seu pai Cid Pacheco formou na primeira turma do Pontão, no tempo dos precursores do surfe de peito e da caça submarina e sua mãe, Myda, uma das pioneiras no jacaré feminino e do uso do biquíni. Por isso Cid dizia que Otávio também era “filho do Arpoador”.
Era ali naquele cenário ainda nativo que Otávio aprendeu a pescar de linha e tarrafa, e a saltar das pedras, uma tradição nas praias cariocas na época. Sua lembrança mais antiga com o surfe é descendo as grandes ondas do Pontão na “proa” de um colchão inflável com o pai, aos quatro anos de idade. Um tempo depois ele passou a praticar o jacaré de peito, para ele o surfe no seu estado mais puro.
Otávio não parou mais. Tanto na tabuinha de madeira da Oceania como na sua pranchinha de isopor da Planondas ele surfava deitado, até que, aos dez anos, ele experimentou o surfe de pé. O ano era 1962 e sua primeira onda foi com uma madeirite emprestada.
Em 1964 Otávio comprou sua primeira prancha do amigo Fábio Kerr, filho do famoso jornalista esportivo Yllen Kerr, pelo valor de 30 cruzeiros. Com essa prancha, uma madeirite monoquilha e bico quebrado, Otávio se misturava com os velhos pioneiros do Pontão. Na época as pranchas de fibra de vidro começaram a aparecer, mas Otávio ainda surfaria com pranchas de madeira por mais dois anos, quando então conquistaria seu grande sonho de consumo da época.
Foi no ano de 1966, que ele e o irmão Fábio Pacheco ganharam dos pais seus dois históricos e clássicos longboards da São Conrado Surfboards. Otávio escolheu uma cópia do modelo Hobbie de 10 pés e Fábio uma cópia da Model A 9’10’’, ambas shapeadas pelo mestre Mario Bração.
O surfe competitivo tinha começado em 1965, quando o Arpoador sediou o Primeiro Campeonato de Surfe. Otávio presenciaria os dois torneios seguintes: o Campeonato Internacional de Surfe (1966) e o Carioca de 1967. Em 1970, mudou-se para Saquarema e depois fez uma viagem icônica ao Sul do Brasil, desbravando as praias de ondas grandes da Imbituba, Garopaba, do Farol de Santa Marta e de Torres. Nesse ano, a histórica construção do Píer de Ipanema, no Rio, teve início. A cada pilastra que avançava mar adentro, as ondas reagiam criando uma nova formação, mais constante, tubular e perfeita. Foi ali que o surfista ganharia destaque vencendo o primeiro Campeonato Carioca do Píer de Ipanema de 1972.
Depois tornou-se bicampeão do Festival Nacional de Ubatuba (1975 e 78) e finalista do Festival Brasileiro de Saquarema, em 1978. Entre um torneio e outro, Otávio foi morar no Havaí e lá recebeu o convite de Fred Hemining e Randy Rarick para participar do mundial “Smirnoff World Cup” em Sunset. Em 1976, com a criação da IPS, Otávio e sua geração passou a representar o Brasil no recém-criado Circuito Mundial, abrindo caminho para a potência do surfe brasileiro no mundo. O Big Rider também disputou o antológico Waimea 5000, no Arpoador, quando venceu nas oitavas de finais, o campeão mundial Shaun Tomson.
Otávio se manteve competitivo nas décadas seguintes e em 2013, aos 61 anos, venceu o Circuito Osklen Surfing, na categoria Legends Longboard. Sempre demonstrando uma forte ligação com o passado e com seus antepassados do Arpoador, o surfista já declarou aos amigos que, ao partir, uma parte de suas cinzas do corpo e do coração devem ser jogadas no mar lendário.
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