ESPORTE Surf

O Japão no surfe

Por Gabriel Pierin


Na última olimpíada realizada em Tóquio, o japonês Kanoa Igarashi conquistou a
medalha de prata no surfe. O sonho de chegar entre os melhores surfistas do mundo
começou antes mesmo de Igarash nascer. Seu pai, Tsutomu “Tom” era um grande fã do
esporte. Quando sua esposa Misa descobriu-se grávida, a família se mudou para a
Califórnia.


Eles se estabeleceram em Huntington Beach, mundialmente conhecida como a surf city
dos Estados Unidos. Igarash conheceu o surfe aos três anos de idade e aos 18 anos
tornou-se o mais jovem surfista do CT, em 2016. Sua performance o levou a um notável
vice-campeonato na etapa de Pipeline. Um feito extraordinário para o país asiático.
Os primeiros movimentos de surfe no país asiático começaram na década de 1950, com
o término da Segunda Guerra Mundial e o início dos conflitos da Guerra Fria, como a
Guerra da Coreia, quando os Estados Unidos fixaram bases militares no Japão e
disseminaram parte da cultura ocidental.


O historiador japonês Yoshitsugu Naito estava entre as pessoas que desfrutaram da
introdução do surfe no Japão. O avanço aconteceu ainda na década de 1960 quando os
militares norte-americanos que lutavam na Guerra do Vietnã se instalaram na base de
Atsugi.


Naito e outros jovens japoneses viram o surfe moderno pela primeira vez enquanto os
soldados aproveitavam as ondas na costa do Japão. Os soldados descendo as ondas de
pé sobre as pranchas atraíram a atenção e passaram a ensinar o surfe para as crianças
locais. As famílias japonesas que moravam nas proximidades das praias abrigaram as
pranchas dos militares em retribuição.


Antes da chegada dos norte-americanos, os japoneses pegavam ondas deitados sobre
pequenas tábuas retangulares de madeiras, chamadas de “itago”. É o que mostram as
fotos da década de 1930 tiradas nas praias de Shonan, a cerca de 50 km ao sudoeste de
Tóquio, em exposição no Surf Village, centro comunitário da praia de Kugenuma.
Kayama Yuzo foi um dos japoneses que se entusiasmaram com o surfe de barriga nas
pranchinhas de madeira. Em 1953, aos 15 anos de idade, Kayama experimentou o surfe,
mas foi na música e no cinema que alcançou o sucesso internacional.
Na década de 1960, Yuko Sugiyama foi uma das pioneiras do surfe feminino no Japão.
Em 1966, no mesmo ano em que os Beach Boys lançaram “Good Vibrations”, o Japão
realizou sua primeira competição de surfe em uma praia em Kamogawa, província de
Chiba, com 99 participantes, todos japoneses, e fez de Mikio Kawasaki seu primeiro
campeão.


Passados 55 anos, o país sediou a primeira competição olímpica de surfe do mundo em
Tsurigasaki, mostrando que o surfe no país do sol nascente veio para ficar. O Japão foi
o único país a ter medalhistas olímpicos no surfe masculino e feminino. Kanoa Igarashi
ficou com a prata na disputa final contra o brasileiro Ítalo Ferreira, enquanto a japonesa

Amuro Tsuzuki levou o bronze no feminino. Tsuzuki fez história como a primeira
japonesa a competir no WSL Championship Tour, em 2019.
Atualmente mais de um milhão de praticantes japoneses disputam as ondas na ilha
repleta de picos para o surfe.

Equipe do Museu do Surfe
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