ESPORTE Surf

Kareca da Shine Surfboards


Por Gabriel Pierin
@gabriel_pierin


Kareca carrega na sua origem o nome e a paixão pela navegação. Nascido José Joaquim
Batista Junior, o descendente de portugueses veio ao mundo no dia 28 de maio de 1955,
em Santos, cidade que o despertou desde muito cedo para os encantos do mar e pelas
construções de embarcações.
No final dos anos 1960, o ainda menino Carequinha assistia ao filme Mar Raivoso na
TV quando ficou maravilhado pelas enormes pranchas que andavam sobre as águas. A
curiosidade abriu caminho para novas descobertas e o surfe entrou na sua vida.
Ele começou a andar com a turma de surfistas do Conde do Mar, entre eles Daniel
Soares e Saulo, além do Gerson Aparecido Estopa do Canal 1 e Ricardo Queimado do
Canal 6. As primeiras experiências de surfe com as pranchas emprestadas dessa galera
acabou fortalecendo o desejo de comprar uma prancha. Carequinha procurou Homero,
mas o negócio acabou não se concretizando. A frustração foi o impulso para usar o
dinheiro e investir em matéria-prima. O menino de 15 anos estava decidido a fazer sua
própria prancha.
Ele comprou isopor na ForFrio, uma empresa especializada em materiais para
refrigeração, a resina na vizinha Império das Borrachas e a fibra – na verdade uma
manta de fibra de vidro – foi retirada de uma velha geladeira abandonada num terreno
baldio.
O processo exigiu criatividade e muito trabalho. O bloco de isopor era retangular e sem
curva. Ele usou ralador de coco para dar forma ao bloco e pincel para ensopar a manta e
assim fazer a laminação. Depois de tudo ele usou um spray de tinta bordô e pintou sua
primeira obra-prima.
A estreia veio num swell enorme no canto direito das Astúrias. A prancha experimentou
sua primeira e única onda. A laminação trincou e dela restou apenas a lição. Era
necessário usar tecido de fibra de vidro ao invés da manta.
Naquele ano de 1970 um seleto grupo de amigos acreditou no talento do jovem shaper.
Eles pagavam o material e serviam de pilotos de teste. Carequinha virou Kareca e o
nome virou marca junto com a Shine, inspirada no resplendor do brilho do sol sobre as
àguas do mar.
A marca brilhou na velocidade da luz. Já em meados da década de 1970, Kareca formou
o surfteam da Coca-Cola em parceria com a Shine Sufboards. A equipe com Maicola,
Wagner Gomes, Juninho e Toninho Mocréia corria o brasileiro em Ubatuba e todos
trabalhavam juntos na fábrica.
Em 1976 ele deixou as garagens improvisadas e montou seu próprio espaço no
Gonzaga. O espaço era uma mistura de loja com oficina. Dois anos depois ele passou a
fabricar no Guarujá. Kareca queria estar mais perto das ondas e dos surfistas.

No início dos anos 1980 Kareca foi para a Califórnia e conheceu o maior mercado de
surfe do mundo. Ele trouxe uma super plaina Skill e muita experiência na bagagem. Na
volta ele estava preparado para o grande salto na carreira, mas o shaper não se
desenvolveu sozinho. Em 1982 ele começou a namorar a Cris e a namorada virou sócia.
Juntos construíram a fábrica no Guarujá e investiram na formação de um surfteam de
peso, com Tinguinha, Douglas Lima, Okumura, Eduardo Rato, Paulo Kid, Taiu, Pacelli
e Mancusi.
Kareca viajou inúmeras vezes com a equipe para o Havaí e entendeu que uma prancha
se faz no relacionamento com o surfista. A década de 1990 foi muito produtiva e a
Shine estava no topo do cenário do surfe competitivo: os campeões brasileiros amador e
profissional e o campeão paulista tinham em comum uma prancha Shine sob os seus
pés.
O santista que um dia sonhou com grandes embarcações, começou com um ralador de
coco e nunca mais deixou de evoluir. Suas novas pranchas nascem a partir de um
projeto em 3D, um banco de dados virtual resultado de 15 anos de trabalho e mais de 50
de experiência acumulada, fabricando para grandes nomes do surfe brasileiro, como os
irmãos do Tombo, Neno, Paulo e Amaro Matos, Jojó de Olivença, Magnus Dias, Jessé
Mendes, Junior Faria, Victor Bernardo, Júlia Santos, entre outros. Nesse cenário de alta
tecnologia aliada ao talento natural, o brilho da Shine irá sempre resplandecer.