Além de vivermos uma inédita superpopulação no planeta (quase 8 bilhões devterráqueos), provavelmente, por imprevidência desta mesma população consumista, a grande maioria, nem todos, a Terra enfrenta o que muitos cientistas consideram ‘a maior ameaça à vida do ser humano, o aquecimento global e suas terríveis consequências’. Por isso, é ainda mais importante a notícia de que o maior berçário de peixes do mundo foi descoberto na Antártica.
Autun Purser, do Instituto Alfred Wegener, estava na ponte do navio quebra-gelo alemão, RV Polarstern navegando pelo Mar de Weddel vigiando baleias com câmeras especiais.
“Esperávamos ver o fundo do mar antártico normal, mas, durante as primeiras quatro horas de nosso mergulho não vimos nada além de ninhos de peixes”, disse Autun Purser, principal autor do estudo publicado na Current Biology.
O Guardian confirma que ‘o ecossistema encontrado por acidente ao usarem o sistema de observação e batimetria do fundo do mar, um dispositivo de câmera rebocada que grava fotos, vídeos e, ao mesmo tempo, faz medições de habitats em águas profundas’.
O navio quebra-gelo RV Polarstern
Apesar de novo, O RV Polarstern já tem muita história na esteira. Em 2020, o navio foi o lar da maior de todas as missões no Ártico, por isso mesmo, comentada neste site.
Assim, a expedição foi sensacional em todos os sentidos. A princípio, iniciada em 2019 com um contingente rotativo de cerca de 100 cientistas, técnicos e tripulantes, teve que lutar não só contra as intempéries mas, sobretudo, com a crise provocada pelo novo coronavírus. Apesar disso, foi um grande sucesso.
Agora, o mesmo navio protagoniza o encontro do maior berçário de peixes, justamente, no lado oposto ao de sua última expedição, o polo Sul. É muito raro uma participação deste porte.
Novo berçário tem tamanho equivalente a um terço da cidade de Londres
Enquanto observava o fundo do mar, de repente, Purser pôde ver ninhos de peixes marcando o fundo do mar a cada 25 centímetros em todas as direções e, ainda por cima, cobrindo área de 240 quilômetros quadrados, equivalente a um terço do tamanho de Londres.
“A câmera estava se movendo [pelo fundo do mar] e, simplesmente, não parava estavam por toda parte”, disse à Live Science.
Os únicos vertebrados que não têm hemoglobina no sangue
Entretanto, os ninhos pareciam pequenas tigelas esculpidas na lama do fundo marinho por peixes-gelo Notothenioidei (Neopagetopsis ionah), nativos do oceano austral.
Aparentemente, os peixes são os únicos vertebrados conhecidos que não têm hemoglobina no sangue. Por causa disso, peixes-gelo são considerados “de sangue branco”.
Autun Purser logo deu-se conta de que a descoberta era ‘algo espetacular’, como à ela se referiu. Peixes-gelo tendem a nidificar em grupos, mas, “antes os maiores berçários tinham quarenta ninhos ou algo assim”.
Contudo, o local da descoberta comporta nada menos que 60 milhões de ninhos “nós nunca vimos nada assim no planeta”.
Peixes-gelo são predados por focas de Weddell
Além de peixes vivos guardando ninhos, a equipe descobriu que a área estava repleta de carcaças de peixes, sugerindo que a enorme colônia de peixes-gelo é parte integrante do ecossistema, provavelmente, servindo como presa para as focas de Weddell.
O tamanho da colônia também sugere que o ecossistema do Mar de Weddell é influenciado, principalmente, por esses ninhos.
“É extremamente provável que as focas estejam comendo esses peixes”, disse Purser. “Se você perdesse os ninhos, talvez, perdesse as focas. É uma quantidade tão grande de comida… eles devem ter um efeito indireto para o ecossistema do Mar de Weddell, pelo menos, e potencialmente, em outras partes das águas antárticas.”
Explosão de vida nos mares profundos
O feliz pesquisador reconheceu ao Guardian: “Os mares profundos não são desertos, eles são, realmente, abundantes em vida. O fato de existirem ecossistemas tão grandes, desconhecidos, mostra o quanto provavelmente ainda há para ser descoberto.”
A novidade rivaliza com o achado do terceiro berçário de raias-manta descoberto apenas em 2020. Ainda há tempo para evitarmos o pior, para isso, basta lutarmos pela manutenção do que existe.
Retirado do site Mar sem Fim
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