ESPORTE Surf

Tom Blake Surfboards

Por Gabriel Pierin

Em 1920 um encontro casual iria selar o destino do surfe. Depois de deixar a escola e adotar um estilo de vida nômade, Thomas Edward Blake estava em Detroit quando encontrou o lendário surfista havaiano, Duke Kahanamoku, no cinema. O episódio influenciou na vida de Thomas, que se tornaria o fundador da cultura do surfe na Califórnia e um dos mais influentes surfistas da história, conhecido mundialmente como Tom Blake.

Tom nasceu em Milwaukee, estado de Wisconsin, nos Estados Unidos, em 8 de março de 1902. Sua mãe morreu quando ele ainda era um bebê e seu pai o deixou aos cuidados de parentes em Washburn, onde frequentou a Escola Católica Washburn’s St. Louis. Em 1918, a Gripe Espanhola fechou a instituição durante o último ano escolar de Tom. Então ele partiu para outras cidades em busca de emprego e de uma vida livre.

Em 1921, Tom se sustentou como salva-vidas e dublê em filmes em Santa Mônica, na Califórnia. Nadador de competição, em 1922, viajou para a Pensilvânia para participar de uma prova de 16 quilômetros no rio Delaware e triunfou sobre os melhores nadadores da Costa Leste, quebrando o recorde existente na competição.

A primeira vez que tentou pegar onda foi em 1921 em uma prancha velha que encontrou no Santa Monica Swim Club, mas acabou se machucando. Em 1924, porém, seu interesse voltou, e para aprender mais sobre o esporte e mergulhar no estudo do surfe e da cultura havaiana, Tom viajou para o Havaí.

Em Honolulu, ele ficou fascinado pelas pranchas de surfe tradicionais preservadas no Bernice Pauahi Bishop Museum. Em sua visita, conseguiu permissão dos curadores para estudar a construção das tábuas e restaurar várias delas. Foi quando começou seus próprios experimentos para melhorar o design de pranchas de surfe. Tom projetou a prancha oca, construindo cavernames na sua estrutura, tornando-a mais leve (30kg) e rápida que a prancha feita em madeira sólida de 90kg.

Em 1935, retirou uma quilha de uma velha lancha e prendeu-a ao fundo de uma prancha, contudo suas invenções e inovações não se limitaram às pranchas de surfe. Ele também queria melhorar os equipamentos de salvamento e adaptou seus designs de pranchas de surfe ocas para uso em resgate. Tom construiu a primeira boia de resgate “torpedo” de alumínio, inspirado na boia de aço criada pelo salva-vidas californiano Harry Walters em 1919. Suas contribuições para o campo do resgate aquático foram reconhecidas pela National Surf Life Saving Association.

No início da década de 1930, Blake experimentou prender uma vela a uma de suas pranchas. Para seu primeiro experimento, ele usou um guarda-chuva, mas posteriormente refinou o design, adicionando uma vela adequada e um leme controlado pelo pé. Em 1935, ele tinha uma versão utilizável em competições e, em 1940, a LA Ladder Company passou a produzi-las. 

Tom Blake também contribuiu substancialmente para o campo da fotografia subaquática. Em 1929, comprou uma câmera Graflex de Duke Kahanamoku e construiu uma caixa à prova d’água que permitia tirar fotos debaixo d’água.

Além do ensaio fotográfico da National Geographic de 1935, no mesmo ano Tom Blake também publicou o primeiro livro sobre surfe, Hawaiian Surfboard , um estudo abrangente que tratou da história e tradição do esporte, construção de pranchas e técnica de surfe. Ele também escreveu artigos sobre construção de pranchas de surfe para a Popular Mechanics (1936) e Popular Science (1939). Em 1961 publicou seu segundo livro, Hawaiian Surf Riding

Quando estourou a Segunda Guerra Mundial, Blake se alistou na Guarda Costeira dos EUA. Ele serviu por três anos, ensinando natação e resgate oceânico. Mais tarde, dedicou grande parte de seu pensamento às questões filosóficas e, em 1969, publicou um ensaio, o “Voice of the Wave”, que abordava o surfe em uma perspectiva metafísica. Ele então revisou e expandiu o ensaio em um livro, a Voz do Átomo, concluído em 1982. A obra explorou temas tão diversos como a imortalidade, o vegetarianismo e a natureza de Deus.

Tom Blake é amplamente descrito como uma das figuras mais significativas na história do surfe, entendendo e adotando o estado de espírito Aloha. Na sua vida não houve separação entre religião, surfe, natação, alimentação e exercícios. Na época, ninguém imaginava que seu estilo de vida pouco ortodoxo um dia se tornaria o padrão aceito para a cultura de praia.

Tom passou seus últimos anos morando em um apartamento em Ashland, Wisconsin. Ele morreu em 5 de maio de 1994.