Por Fabrizio Gallas
Respondendo a perguntas de jornalistas nesta quinta-feira, Robert Scheidt, dono de cinco Medalhas Olímpicas, duas de Ouro, duas de prata e uma de Bronze, comentou que se sente mais leve que em outros Jogos e em uma crescente, para buscar sua sexta medalha nesta que será sua última participação Olímpica, em Tóquio, no fim de julho.
“Quando anunciei meu retorno (da aposentadoria) pela segunda vez, muita gente me questionou se teria chance e estou aqui, em uma boa fase para chegar competitivo em dois meses em Tóquio”, descreveu.
“Meu momento nesses últimos meses está numa crescente, a preparação que fiz em Lanzarote (Espanha) em janeiro, fevereiro e março combinados com o bom trabalho de preparação física renderam bons resultados”, disse o velejador que foi prata por um ponto atrás no torneio de Villamoura, em Portugal, que contou com vários dos melhores do mundo na classe Laser: “Villamoura me mostrou que estou no caminho certo. Não tem nada garantido, faltam dois meses para a Olimpíada, algumas coisas podem mudar. Mesmo assim mostrou que posso disputar de igual pra igual com qualquer um e esse, era o objetivo desde o início: ser competitivo nos Jogos Olímpicos.”
Aos 48 anos e sem ser o principal favorito, Scheidt diz estar se preparando com mais tranquilidade e com menor responsabilidade que em outras ocasiões: “Me sinto mais leve do que em outros Jogos Olímpicos. Não sendo favorito, você faz as coisas com mais tranquilidade, os holofotes não estão em você o tempo inteiro, mas isso não quer dizer que eu queira menos a medalha, que sonhe menos com ela. Pelo contrário, a vontade de chegar no pódio, fazer uma boa Olimpíada é tão grande como nas outras vezes. Se não maior. Estou caminhando pro fim de minha carreira então, as chances vão diminuindo de continuar na caminhada olímpica. Estou mais leve. A responsabilidade não é tão grande sobre mim”.
Para Scheidt a pandemia acabou lhe ajudando na preparação, dando mais tempo de adaptação à classe que sofreu algumas alterações na vela e sobretudo no mastro: “Primeiro do lado humano a pandemia é uma coisa muito triste, muitas vidas perdidas. Pra mim foi um momento de bastante apreensão. Do lado esportivo, o tempo a mais teve um impacto positivo acredito. O ano de 2020 não foi muito positivo, tive um Mundial com alguns problemas físicos, lesões. Os meses e esse ano a mais que tive, consegui me organizar e me preparar melhor, mexi em algumas coisas de minha preparação que não estavam muito boas e esses últimos meses trabalhei muito duro e, o nível elevou. Foi benéfico pra mim esse tempo a mais”
“Tivemos mudanças na Laser na vela e no mastro de 2016 pra cá. Mastro com a parte debaixo de alumínio, passou a ter a parte de cima de carbono. Isso adicionou um pouco de dureza ao mastro. A vela mudou também, adicionando mais potência ao barco, fez com que o barco ficasse mais difícil de controlar nos ventos fortes, mais contra-peso. O peso dos velejadores aumentou também. O peso ideal no Rio-2016 era 80kg agora passou a ser 84kg. Consegui me adaptar, ganhei massa muscular, estou perto do peso ideal, dos 84. A técnica do barco também mudou, principalmente no vento em popa. Pra ser sincero, demorei um pouco a me adaptar, quando voltei pra classe em 2019, tive bastante dificuldade no vento em popa que era meu forte no ciclo passado, mas com muitas horas de voo, estou ficando cada vez mais confortável. “
Scheidt apontou as dificuldades que a Olimpíada com uma pandemia pode trazer: uma é o confinamento na Vila ou no hotel e outra é o pouco tempo de treino na raia olímpica.
“Devido à pandemia, nenhum atleta conseguiu se preparar de maneira perfeita. Normalmente os atletas se deslocam muitas vezes ao local para se adaptarem à raia, ao vento, ao mar, às condições climáticas, só que ninguém teve esta chance. Chegar de uma vez, em cima da hora de uma Olimpíada, com grande pressão, é o evento que pode me ajudar, pois passei por muitas situações, em várias Olimpíadas. O lado mental, a calma, tranquilidade, isso pode ajudar. Na raia em Enoshima pode dar de tudo, vento forte ou fraco, não predomina uma condição. A Vela leva seis dias, então naturalmente, existirá uma variação de condição e pra mim isso é bom, sou um velejador que cobre bem tanto vento fraco como forte. Seria bom ficar sem um tipo de vento só nos seis dias”
“O ponto principal logo antes e durante os jogos, é evitar uma infecção de COVID, um teste positivo, isso pode te tirar e desclassificar dos Jogos. Seria um momento muito crítico para qualquer atleta, o cuidado principal é não se infectar antes da ida e nem durante. Coisa secundária é a mudança da rotina. Pelo que foi passado para nós, não teremos liberdade de sair da vila ou hotel para fazer caminhada, comprar alguma coisa para sair do local de competição, quebrar um pouco a rotina. Será uma rotina muito restrita aos atletas. Isso tem um peso de não tirar o pensamento da Olimpíada. Em outros Jogos, você poderia se entreter, ir ao cinema, assistir outro esporte.”
Scheidt aponta estar ansioso pela disputa dos Jogos, mas confia no lado mental que não irá atrapalhar o desempenho.
“Em cada Olimpíada existe ansiedade. Sendo a primeira, sexta, sétima. A questão é essa ansiedade não atrapalhar a performance. Quero muito estar lá, lutar pela medalha, representar bem o meu país mais uma vez. Não vou fugir da ansiedade, mas acho que vou conseguir controlá-la para não atrapalhar a maneira como vou performar”.
Sobre os principais concorrentes na raia na Classe Laser, ele destaca o atual campeão mundial e tem como incógnita, os atletas da Oceania que, não viajaram para disputarem competições após o começo da pandemia.
“No momento um nome muito forte é o alemão Philipp Buhl que venceu em Villamoura, me venceu por um ponto, me passando no último dia de regatas, atual campeão mundial, tem boa experiência, com 30 anos. Temos o australiano; o atleta da Nova Zelândia, um pouco uma incógnita. Como os australianos e neozelandeses estão, não pudemos enfrentá-los, pois no último ano, eles não viajaram. Nós só tivemos contatos com americanos, europeus, sul-americanos. O croata, atleta do Chipre, da França que é meu companheiro de treinos, acredito que serão uns 10 a 12 que irão lutar pela medalha. A Classe Laser é muito forte, tem grande representatividade de países e, é um barco onde o velejador faz a diferença. Na Olimpíada todo material é fornecido pela organização, barco, vela, mastro. O que faz a diferença é o velejador, a maneira como irá velejar, decisões táticas. Não tem muita questão de equipamento nessa categoria”.
Scheidt comentou que vem fazendo algo inédito na classe Laser: aos 48 anos estar competitivo e na busca pela medalha. Ele destaca os segredos para chegar competitivo, em pouco mais de dois meses no Japão.
“O principal com a idade, é o tempo de recuperação e a tua maior facilidade de se lesionar então, a palavra é equilíbrio e qualidade de treinamento. Antes com 20 e 30 anos minha filosofia, era fazer mais que os outros, essa filosofia não consigo mais manter, pois vou me machucar. Hoje em dia treino um volume bem menor, mas com qualidade e intensidade melhor. Também escutar o corpo, descansar. Identificar a lesão antes dela ficar ruim. Tem profissionais competentes de fisioterapia, tenho feito trabalhos na perna. E também alimentação e sono, tem impacto muito grande para longevidade do atleta. Hoje tenho rotina mais regrada do que 20 anos atrás. Estou tendo essa chance de usá-lo (corpo) em alta performance, ele me permite fazer esse abuso, vamos dizer assim. Essas velejadas com o barco em vento forte que exigem muito. A parte mental, também é muito importante, em sintonia com o físico. É uma das diferenças que senti em Villamoura, me recuperando bem de um dia pro outro, nos dois últimos me sentindo bem e ainda tive uma boa performance física”
“Em 1996 com 23 anos de idade eu não iria acreditar que disputaria minha sétima Olimpíada e brigaria pela sexta medalha. Na época achava que 35 anos era o limite para uma boa performance, mas está mudando em outros esportes como no tênis, com tantos jogadores conseguindo longevidade. Até na natação, com 25 anos diziam que era o limite e hoje, a galera tem mais idade; depende de cada um, do estilo de vida, cuidado com o corpo e acima de tudo, da força interior do quanto ele quer aquilo”.
Sua motivação para desistir da aposentadoria Olímpica após a Rio-2016 foi a paixão pelo esporte e o desafio?
“O que me motiva é a paixão pelo esporte, não só a sensação de velejar, mas ver até onde posso chegar. O que estou fazendo hoje, nunca ninguém fez na Classe Laser, é uma coisa nova , mostrando pra juventude que eles têm muita lenha pra queimar, que tem muito pra competir. É a chama, paixão que me faz lutar por aquilo”.
Scheidt finalizou sem querer fazer planos pós-Tóquio. Está com o foco total nos detalhes a melhorar para a disputa Olímpica. Ele só mencionou que pensa em velejar em barcos maiores.
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