Por Gabriel Pierin
José Luís da Silva Neto, filho de Neusa Ignácio e Sebastião Luís, nasceu na distante Araraquara, no dia 14 de outubro de 1963. Os avós de José tinham o sonho de viver na cidade praiana e para cá mudou-se toda a família, quando o menino ainda tinha dois anos de idade.
Morador do Marapé, José Luís logo se apaixonou pela praia e, especialmente, pelo mar. Como a maioria das crianças naquela idade, ele brincava pegando ondas de peito. Um dia ele viu um surfista descendo uma onda de pé e sonhou fazer igual.
O destino sorriu pra ele quando encontrou aquela que seria sua primeira prancha. José Luís tinha oito anos, voltava pra casa e viu uma velha prancha abandonada no lixo. Ela estava toda remendada com massa plástica, mas fez a alegria do garoto até conquistar uma prancha de qualidade, do shaper Jorge Limoeiro, um presente do tio que morava nos Estados Unidos e passava férias no Brasil, em 1976.
Aos 11 anos José Luís ganhou o apelido que o acompanharia pela vida inteira. O professor de Educação Física, Carmelo, chamou o garoto de Quizumba. O nome já pertencia a outro surfista das antigas, o Quizumba do Itararé. A palavra tem sua origem na tradição africana e trata-se de uma dança, mas por herança da escravidão, ganhou um significado pejorativo associado a bagunça, arruaça.
Ao lado de Edu Buran, Valmir dos Santos e o Carriça, o rapaz cresceu e enfrentou as contradições de um esporte que aspirava a liberdade com o período de repressão que o país vivia. Além disso, ele ainda enfrentava o preconceito por ser preto. O surfe era praticado pelos jovens brancos, e na raridade da diversidade, Quizumba se destacava pela sua cor e seu surfe arrojado e estilo único.
Ele encarou tudo com a coragem daqueles tempos de rebeldia e resistência, mas se recusou a disputar a etapa do campeonato brasileiro de surfe no Rio Grande do Sul, quando descobriu que um dos clubes do estado só aceitava pessoas brancas no seu quadro associativo.
Ligado ao mar desde garotinho e surfando ao lado dos melhores surfistas do Quebra-Mar, o surfe virou sua escola para a vida e foi o incentivo para começar a competir. Ele era um dos companheiros da família Salazar, de quem recebeu grande apoio. No primeiro torneio, o Festival de Surf do Itararé, em 1975, Quizumba recebeu o troféu revelação. Depois acumulou outras vitórias, dentre elas o campeonato regional vicentino, o regional de Mongaguá e o de Peruíbe. Com as conquistas vieram os patrocínios e novas pranchas, como a Surf Explosivo e Nativas Surfboards, do Nelson Letra, shapeada pelo Cocó. Quizumba ainda conquistou o patrocínio das marcas de São Paulo Lightining Bolt e Quicksilver e das santistas Bolt e BlackTrunk da família Mansur.
Quizumba fez curso, trabalhou como salva-vidas e fez parte do projeto Salva Surf, em 1985, uma iniciativa do Grupamento de Bombeiros Marítimos (GBMAR) que envolve técnicas de salvamento com pranchas.
Uma grande lembrança dessa época era quando mais de 50 surfistas disputavam quem iria pegar a maior da série dos mares de ondas grandes do Quebra-Mar.
José Luís, o Quizumba, convive no Quebra-Mar, mostrando que a cultura do surfe é livre e inclusiva.
Equipe do Museu do Surfe
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