Por Gabriel Pierin
Era ao lado do trabalho do pai que o menino Ítalo Ferreira se divertia quando criança. Filho de um vendedor de pescados da paradisíaca Baía Formosa, no Rio Grande do Norte, Ítalo tirava a tampa da caixa de isopor para pegar as ondas no mar.
A brincadeira sobre o isopor durou mais de um ano. Depois de dezenas de tampas quebradas, um grupo de amigos doou uma prancha velha com o bico quebrado. Aos oito anos, Ítalo passou a surfar com uma prancha de verdade. Três anos depois, o pai com a ajuda de familiares, comprou uma prancha nova e se realizou na alegria do filho.
A evolução com um equipamento adequado foi rápida. Ítalo aperfeiçoou as manobras, enquanto seu corpo ganhava força e velocidade. Da diversão, nasceu o sonho profissional.
A dedicação de Ítalo durante a adolescência era mal visto na comunidade. O surfe, considerado uma prática de desocupados, tornava Ítalo uma vítima da maledicência das pessoas. Além disso faltava apoio e estrutura para as competições. Sem ajuda na esfera pública, os pais e parentes uniam esforços na busca de melhores condições e equipamentos.
Em 2007 o diretor de marketing da Oakley, Luiz “Pinga” Campos, estava acompanhando dois eventos de surfe amador no Nordeste do Brasil. Em um dos dias da viagem, Pinga chegou cedo para surfar e viu de cima da escada que dá acesso à praia de Ponta Negra, em Natal, um menino pegar uma onda, dar um aéreo, acelerar e mandar outro aéreo. Ele perguntou para os surfistas locais de quem se tratava e acompanhou de perto a participação do Ítalo no campeonato. Pinga ficou impressionado com o desempenho do garoto durante um dos eventos, aproximou-se e pediu um encontro. No dia seguinte a mãe de Ítalo conheceu o projeto, e a partir daí, o novato surfista se integrou à equipe da Oakley, dentro do programa de desenvolvimento da companhia.
Os resultados começaram a aparecer. Anos depois, já competindo profissionalmente, Ítalo foi o melhor estreante da World Tour ao terminar o ano de 2015 em 7º lugar. Em 2016 terminou em 15º e uma grave lesão nos ligamentos do tornozelo afastou Ítalo de algumas etapas em 2017, comprometendo seu desempenho no ranking, terminando em 22º.
Em 2018 a volta por cima. O potiguar, com uma performance incontestável, derrotou o tricampeão mundial Mick Fanning e venceu a tradicional etapa de Bell’s Beach, na Austrália. Ele também venceu outras duas etapas e terminaria o torneio em quarto lugar no ranking.
No ano seguinte veio o tão sonhado título mundial. Na primeira etapa ele virou uma bateria praticamente perdida contra o norte-americano Kolohe Andino e começou a temporada na liderança. Na sequência alguns resultados ruins afastaram Ítalo da briga pelo título, mas um segundo lugar com Gabriel Medina em Jeffrey’s Bay mudou a história do campeonato. Uma combinação de resultados nas etapas seguintes colocou o brasileiro na ponta novamente.
Ítalo chegou a Pipeline disposto a vencer. Ele e Medina foram passando suas baterias até a grande final. Pela primeira vez na história, dois brasileiros disputavam o título máximo do surfe mundial. Uma vitória na última bateria garantia o troféu para qualquer um dos dois.
As ondas estavam perfeitas e tubulares. Ao fim do confronto, Ítalo venceu Medina e tornou-se o campeão mundial de 2019 da WT. Um título merecido. Por conta da pandemia o circuito foi cancelado em 2020. A expectativa se voltou para a Olimpíada de Tókio, competição inédita no surfe, adiada para 2021.
Ítalo mais uma vez surpreendeu. Enfrentando um mar em condições adversas, o brasileiro superou todos os seus adversários. Na grande final disputada na última terça-feira, dia 27 de julho, o potiguar venceu o atleta japonês Kanoa Igarashi e entrou para a história como o primeiro campeão olímpico de surfe.
Equipe do Museu do Surfe
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