ESPORTE Surf

O legado Faggiano

Por Gabriel Pierin

Eduardo Faggiano, o Cocó, nasceu em 24 de janeiro de 1951, em São Paulo. Quando ele tinha apenas um ano, a família mudou-se para São Vicente, a uma quadra da praia. Ainda pequeno, Cocó pegava onda de pranchinha nos quebra-cocos que se formavam em dia de ressaca na Praia do Gonzaguinha, em São Vicente.

Sua vida começou a mudar aos 13 anos de idade. Em 1964, ele viu numa edição da revista O Cruzeiro a foto de dois surfistas sobre pranchas de madeira na Ponta do Arpoador. Era o anuncio de um esporte que começava a se difundir no Rio de Janeiro. A matéria ainda detalhava as dimensões da prancha, despertando a curiosidade e o espírito construtivo de Cocó.

O garoto foi numa madeireira da avenida Frei Gaspar e comprou uma placa de 2,20m x 0,35m de largura e 2cm de espessura. Ele cortou a placa no tamanho da prancha e correu pro mar na tentativa frustrada de ficar de pé como os rapazes da revista.

Dias depois o amigo Paulo Mansur falou que o pai trouxe uma prancha de surfe do Rio de Janeiro para decorar a casa. Cocó ficou curioso e foi conferir o lindo modelo de madeira maciça, bico envergado, quilha e borda arredondada. Uma obra de arte aos olhos do garoto.

Foi quando o entusiasmo de Cocó contagiou o pai, Geraldo Faggiano. O conceituado professor de Educação Física conversou com o Paulo Jorge Mansur, deputado federal e pai de Paulo, Gil e Beto Mansur, e conseguiu tirar a prancha da casa dele. Eles foram juntos até o Tumiaru. O Tumiaru era um clube de regatas e o departamento de remo tinha uma marcenaria própria. Os experientes marceneiros do Tumiaru ainda guardavam o projeto da prancha do Osmar Gonçalves, pioneiro no Brasil a surfar com uma tábua havaiana. Esse pessoal revelou que havia sido lançado no mercado um novo material, mais fácil de trabalhar, o madeirite. Eles ainda explicaram a mágica de curvar o bico esquentando a madeira com água fervendo, tornando-a flexível e moldável.

Com uma folha de madeirite era possível fazer até duas pranchas. Quando Geraldo fez a primeira, a galera correu pro mar e experimentou pela primeira vez a sensação de ficar de pé e cortar a onda.

A notícia se espalhou e contagiados pela novidade e pela semelhança, a garotada passou a assediar os tapumes de obras. Os roubos de tapumes saiam nos jornais, enquanto o surfe de madeirite avançava pelas praias do Itararé.

O tempo passou e num determinado dia, Geraldo descobriu numa edição da revista Popular Mechanics em espanhol, uma novidade na fabricação de pranchas: o poliuretano. Geraldo se debruçou sobre os novos materiais flutuantes. Uma turma ia até a casa dos Faggiano na rua Cândido Rodrigues, em São Vicente, acompanhar o professor Geraldo fabricando pranchas cada vez melhores, entre eles Nei Sobral, Julinho, Jô Hirano e os irmãos Argento. Geraldo fazia tudo em isopor e avançava com o uso da resina. As pranchas foram um sucesso e a molecada começou a procurar orientação do Geraldo. Ele passou a dar dicas sobre a compra e o uso de materiais e ainda supervisionava a fabricação.

No início da década de 1970, Cocó encontrou o Paulinho Issa em Ubatuba, ainda um recanto isolado com acesso de estrada de terra. Foi um dia surreal, com ondas perfeitas no Canto do Baguari, na Praia Grande. Depois de todos esses anos, Paulo ainda estava com uma prancha feita na casa dos Faggiano e o irmão com uma São Conrado Surfboards.

Paulo viu a pranchinha de 1,75m de Cocó, feita de isopor, e fez o convite pra montar uma fábrica de pranchas. A fábrica surgiu na casa da mãe de Cocó, na rua Indiana em São Paulo. Nascia ali a Squalo Surfboards. No começo, Cocó ainda usava cavaletes, serrotes e raladores para shapear as primeiras pranchas ao ar livre, no quintal da casa.

A história de sucesso da Squalo envolveu Russel Coffin, o início com blocos Roger Foam e uma infinidade de inovações que ainda serão contadas.

Equipe do Museu do Surfe

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